Ayrton Senna antes do
início da corrida do Grande Prêmio de San Marino de 1994, onde perdeu a vida
depois de seu carro se espatifar na curva Tamburello durante a sétima volta. O
piloto tinha 34 anos. Foto: Getty
O
dia 1º de maio será repleto de homenagens a Ayrton Senna, piloto brasileiro
tricampeão mundial de Fórmula
1. A data marca os 28 anos de sua morte durante o Grande Prêmio
de São Marino, em 1994.
Na
noite deste domingo, haverá um tributo inédito ao piloto no Rio de Janeiro, em
um célebre cartão postal da cidade: o Cristo Redentor. As cores do icônico
capacete de Senna serão refletidas na imagem do Cristo, contribuindo para um
cenário inesquecível na Cidade Maravilhosa.
A
cidade de São Paulo também será palco de uma importante homenagem ao piloto,
antes do início da partida entre Corinthians e Fortaleza, as 16h. O clube
paulista é o time de coração de Senna e já realizou diversas ações homenageando
o piloto.
Capacetes,
troféus, macacão e até a McLaren de Ayrton Senna serão exibidos em formato
inédito na página oficial piloto no Instagram neste mês de maio. Serão 28
relíquias, sendo que todas elas pertencem ao piloto e foram escolhidas a dedo
pela própria família do grande campeão.
A
ação será no formato reels, com um item sendo exibido por dia nos mínimos
detalhes, entre segunda-feira a sábado. Apenas em 1º de maio (domingo) haverá
dois itens sendo apresentados. O primeiro vídeo entrará no ar às 10h da manhã.
“As
homenagens em 1º de maio sempre são muito carinhosas e especiais para todos
nós, pois mostram como segue presente o legado do Ayrton nestes 28 anos”, diz
Bianca Senna, CEO de Senna Brands e sobrinha do piloto.
Filtro
no Instagram
Outra
importante ação neste primeiro de maio é que as páginas @oficialayrtonsenna e
@sennabrand vão exibir um filtro inédito para ser usado no Instagram.
Os
usuários poderão escolher a frase de Ayrton Senna que é mais representativa
para eles entre várias frases randômicas que aparecem na tela.
Em
29 de abril de 1994, Rubens Barrichello sofreu um acidente pavoroso no circuito de Ímola
(Itália), do qual apenas os mais otimistas esperavam vê-lo sair vivo. “Lá
estava ele, preso naquele Jordan capotado e destroçado, endireitado com intenso
furor pelos seguranças. Inconsciente, com a língua dobrada. Afogando-se”,
lembra o jornalista italiano Giorgio Terruzzi, que naquele fim de semana cobria
o Grande Prêmio de San Marino, em seu livro L’Ultima Notte di Ayrton
Senna. Barrichello, que ainda não completara 22 anos, sobreviveu e seu
amigo Ayrton Senna, 34, foi vê-lo na enfermaria o mais rápido que
pôde. O que o tricampeão mundial não sabia é que, ao contrário de Barrichello,
que milagrosamente se salvou, ele estava vivendo suas últimas 48 horas.
A
imprensa especializada logo começou a se referir à sexta-feira 29, sábado, 30
de abril e domingo, 1º de maio de 1994 como o fim de semana mais sombrio da história da Fórmula 1.
Barrichello não se lembra diretamente daqueles dias. “Passados 20 anos,
Barrichello não se lembra. Não se lembra da visita de Ayrton na enfermaria de
Ímola. Não se lembra de ter ido ao box de Ayrton no dia seguinte para se
despedir antes de voltar para a Inglaterra por ordem do Dr. Watkins. Nada de
corridas por um tempo. A amnésia, decorrência do grave traumatismo craniano,
durou meses. E, em certos aspectos, durará para sempre”, relata L’Ultima
Notte di Ayrton Senna. Já Ayrton Senna, aterrissou em Ímola carregado de más
sensações; não se sentia confortável com a Williams que dirigia e o acidente de
Barrichello havia aumentado sua inquietação.
“Ele
nunca confessou isso publicamente, mas comentava-se que o carro que ele dirigia
na Williams tinha facilidades eletrônicas que não eram permitidas nas
corridas”, disse ao EL PAÍS Rafa Payá, jornalista especializado em Fórmula 1 no
jornal As. “Seu sonho era pilotar na Ferrari; deixar a McLaren para
começar a Williams em 1993 era o passo intermediário que ele tinha que dar para
alcançar seu objetivo, mas as coisas na escuderia inglesa não estavam indo como
ele esperava. Senna dava muita importância à segurança e não sentia que
sua equipe o respaldava nesse sentido”, observa Payá.
Giorgio
Terruzzi concorda e explica ao EL PAÍS que falar sobre segurança sempre
foi um assunto tabu no mundo do automobilismo. “Os pilotos
nunca falam sobre a morte ou o perigo que correm cada vez que rodam pelo
circuito”, diz o italiano.
Conforme
relatado no livro de Terruzzi, Ayrton Senna havia chegado a Ímola mais tarde do
que o normal. “Os pilotos costumam chegar na quarta-feira ao circuito onde vão
correr no fim de semana”, diz Rafa Payá. O brasileiro apareceu lá na
quinta-feira, um dia antes de Barrichello sofrer o acidente espetacular, e
estava enfrentando um fim de semana difícil. Era a terceira corrida da
temporada, não havia conquistado nenhum ponto nas duas anteriores e um jovem, e
quase recém-chegado, Michael
Schumacher vinha em seu encalço.
“Seu sonho era pilotar na Ferrari. Deixar a McLaren para começar na Williams era o passo intermediário que ele tinha que dar para alcançar seu objetivo. No entanto, as coisas com a escuderia inglesa não estavam indo como ele esperava. Senna dava muita importância à segurança e não sentia que sua equipe o respaldava” ( Rafa Payá, jornalista especializado em Fórmula 1)
“Senna
tinha certeza de que o carro de Schumacher estava usando facilidades
eletrônicas ilegais na época, e isso o torturava”, afirma Terruzzi. Mas não era
a única coisa que o torturava. No Brasil e no Japão, apesar de ter obtido o
melhor tempo na classificação e ter saído em primeiro no grid de largada, teve
que abandonar a corrida depois de sofrer um acidente nos dois circuitos. Ele
sabia que não tinha escolha a não ser ficar em primeiro lugar em Ímola, mas
também sabia que o seu carro não era vencedor. “Não posso dirigir, tudo está
rígido, o carro pula a todo momento. Parece uma cadeira elétrica”, disse Senna
assim que chegou ao circuito.
Ayrton
Senna estava nervoso. "Ele era muito tranquilo antes de correr, sempre se
sentava no carro para ler a Bíblia. Mas naquele fim de semana estava inquieto e
não queria correr", diz o especialista em Fórmula 1. No sábado, 30 de
abril, aconteceu algo que causou comoção no mundo do esporte e fez com que
Senna e outros pilotos se recusassem a correr no dia seguinte. O carro do
austríaco Roland Ratzenberger, de 33 anos, bateu a 320 quilômetros por hora
durante a classificação para o Grande Prêmio de San Marino. O piloto perdeu a
vida quase instantaneamente: exatamente oito minutos depois de ter sido levado
por um helicóptero. Era o segundo acidente em Ímola em menos de 24 horas. Não
seria o último.
Senna
estava no box quando Ratzenberger perdeu o controle do carro. Depois de
assistir às imagens em câmera lenta no monitor, ele começou a chorar
descontroladamente. Sid Watkins, médico que havia atendido Barrichello no dia
anterior e a Ratzenberger, um pouco antes e sem êxito, recebeu o brasileiro na
enfermaria. Eram amigos e, como relatado em L'Ultima Notte di Ayrton
Senna, ele lhe deu um conselho: "Ayrton, deixa pra lá, não corra
amanhã, há muitas outras coisas na vida. Você ganhou três campeonatos mundiais,
é o melhor piloto do mundo. Não precisa se arriscar agora. Vamos sair daqui,
vamos pescar." O piloto ficou em silêncio por um longo tempo e, de acordo
com o próprio Watkins em seu livro Life at the Limit: Triumph and Tragedy
in Formula One, ele lhe respondeu assim: "Há coisas que escapam ao nosso
controle. Preciso continuar".
Giorgio Terruzzi garante que Senna não queria correr no domingo. “Quando olho para trás, lembro que a atmosfera estava muito tensa. O acidente de Ratzenberger foi algo horrível que nós, que estávamos lá, presenciamos, e isso nos marcou. Vimos muito sangue e eu cometi a estupidez de ir ver o carro após o acidente, e Ayrton também fez isso. Ele estava realmente triste e preocupado”, comenta o jornalista italiano.
Segundo
Terruzzi em seu livro, o brasileiro suplicou ao chefe da Williams, Frank
Williams, que pedisse o cancelamento da corrida do dia seguinte. “Estava
convencido de que, depois dos acidentes de Barrichello e Ratzenberger, os
pilotos não estavam em condições de competir”, conta Terruzzi, que naquela
tarde testemunhou o momento em que Senna fez estas declarações reveladoras:
“Consegui o melhor tempo, mas isso não significa que as coisas vão bem. Esta
pista é um desastre ... Os carros são imprevisíveis, correm muito e é difícil
dirigi-los. Será um ano com muitos acidentes e acho que estaremos com sorte se
nada grave acontecer”.
Na
noite de sábado, 30 de abril, Ayrton ligou para sua namorada, a modelo Adriane
Galisteu. Ela, 12 anos mais jovem que ele, estava em Sintra (Portugal) e eles
planejavam se encontrar depois do GP de domingo. “Tudo está uma merda, um
austríaco bateu e se matou. Eu vi tudo. Morreu na minha frente. Sabe de uma
coisa? Eu não quero correr.” É assim que Terruzzi reproduz a conversa do casal.
“Nunca tinha escutado Ayrton falar desse jeito”, confessou Galisteu tempos
depois.
Antes
de iniciar aquela que foi sua última corrida, Senna disse uma frase hoje
considerada premonitória: “A Fórmula 1 não voltará a ser a mesma depois deste
fim de semana.”
Ayrton
não foi o piloto que ganhou mais títulos. Depois dele, Schumacher acabou
conquistando sete campeonatos, Lewis Hamilton seis e Sebastian Vettel, quatro.
Mas, mesmo antes de sua morte torná-lo uma lenda do automobilismo, Ayrton Senna
já era uma instituição. Como afirma o próprio Terruzzi, que viveu de perto seus
melhores (e últimos) anos como piloto, “Ayrton Senna era o chefe. O primeiro da
lista. O intocável.”
Fonte: El Pais / Isto È Dinheiro
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