Foto: Guilherme Santos/Sul21
Sem
um plano de governo pronto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foge
de sabatinas com empresários. O petista tem se esquivado de debates públicos
com executivos para evitar desagradar aliados antes de haver consenso sobre as
propostas a serem apresentadas na disputa pelo Palácio do Planalto. Para esses
eventos, Lula tem escalado apoiadores mais próximos.
Sob
a condição de reserva, integrantes da pré-campanha do ex-presidente afirmaram
que ele foi abordado por agentes econômicos, principalmente do mercado
financeiro. No entanto, Lula está intransigente quanto a participar de
conversas abertas que possam implicar escrutínio na presença de eventuais
desafetos.
Em
evento promovido pela XP Investimentos neste mês, por exemplo, o ex-presidente
teve como emissário o ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Alexandre
Padilha.
O
Estadão apurou que ele tratou de temas caros à Faria Lima, como a reforma
trabalhista, que Lula já criticou e agora fala em revisar. Padilha disse que o
empresariado fará parte das discussões sobre o tema. Padilha afirmou que foi
"convidado como ex-ministro da coordenação política e atual deputado
federal". Ele participou também de outro evento da empresa, no mês
passado, nos Estados Unidos. "Em Washington, fui nessa condição (de
ex-ministro e deputado) e, nos debates das chapas, o PT estava representado por
Guilherme Melo (economista da Unicamp)", afirmou. O deputado disse
desconhecer que Lula evite debates.
RESERVADO
- A estratégia de Lula, porém, foi confirmada por aliados. "Ele tem
tratado (de economia) em conversas mais reservadas. Para as agendas mais
abertas, (o presidente Jair) Bolsonaro mandava o povo dele lá, e saiam dizendo
tudo diferente", afirmou o ex-governador Wellington Dias (PT), um dos
articuladores e conselheiros de Lula.
Dias
afirmou ainda que Lula quer "ouvir e compreender mais os desafios das
empresas em cada área", das pequenas às grandes. "Ele (ex-presidente)
está preocupado com o efeito da inflação, dos juros altos e da queda da renda
na economia, colocando grande dificuldades para empreendedores, e são eles que
geram emprego ."Entre os eventos que Lula já recusou está a participação
no CEO Conference, do BTG, em fevereiro. O banco confirmou que Lula declinou do
painel promovido pela instituição. Procurada para comentar a estratégia, a
assessoria de imprensa do petista não quis se manifestar. Apesar de driblar
empresários, o ex-presidente tem participado de eventos de apoiadores, onde,
por exemplo, já atacou o teto de gastos - regra constitucional que limita o
aumento das despesas públicas à inflação e hoje é a única âncora fiscal do
País. Na sexta-feira, ele se encontrou com movimentos sociais mais uma vez, em
São Paulo.
PORTAS
FECHADAS - Para encontros a portas fechadas, Lula tem recorrido a antigos
aliados do meio empresarial. Um deles é José Seripieri Filho, conhecido como
Junior, fundador da Qualicorp, intermediadora de planos de saúde. Na casa de
Junior, por exemplo, foi promovido um jantar reservado com Lula, Fernando
Haddad - pré-candidato ao governo de São Paulo -, e empresários como o
presidente do conselho do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e o executivo da
Votorantim Cláudio Ermírio de Moraes, em fevereiro.
O
encontro foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pelo Estadão. Na
conversa, segundo uma fonte presente ao jantar, Lula disse que está disposto a
olhar para frente e deixar desavenças no passado. Junior, Trabuco e Moraes não
se manifestaram.
Lula
também chegou a se reunir com o presidente-executivo da XP Investimentos,
Guilherme Benchimol, reservadamente, no mês passado. O empresário disse, em
redes sociais, que o encontro foi "institucional" e que se
encontraria com outros presidenciáveis. Sem Lula, outro fiel aliado, o
empresário e ex-ministro Walfrido Mares Guia, chegou a ter uma conversa com a
diretoria da XP durante a qual defendeu o petista e seus governos. Walfrido não
se manifestou.
ESTRATÉGIA
- As reuniões a portas fechadas, com seletos convidados, vão perdurar até que
Lula alinhe seu plano de governo com aliados. "A nossa ideia é elaborar um
programa mais enxuto", disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira, após
uma reunião para debater as propostas em São Paulo.
Durante
o evento, por vídeo, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirmou que o PT deveria
divulgar o plano de governo somente no início da campanha, em agosto. Segundo
ele, há o risco de Bolsonaro, ainda no cargo, "roubar" propostas.
Mencionou, por exemplo, que o PT e Lula defenderam abertamente ações para
socorrer endividados do Fies, e que o governo federal editou uma Medida Provisória
que dispõe sobre a negociação de dívidas dos estudantes.
Com informações da coluna notícias ao minuto do Estadão
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