Em
meio à guerra na Ucrânia,
crianças e adolescentes da Rússia tornaram-se
um alvo prioritário da propaganda do Kremlin. Desde o jardim da infância, os
jovens estudantes russos têm sido incentivados a manifestar seu apoio ao
conflito, com o envio de cartas aos soldados que combatem no país vizinho e o
surgimento em janelas e portas das instituições educacionais da letra “Z”, o
símbolo extraoficial do governo local para a guerra. As informações são da
rede Radio Free Europe.
Como
parte da campanha para disseminar o sentimento pró-guerra entre os alunos, uma
onda de postagens nesse sentido invadiu as redes sociais em março. Eram
atividades nas quais os estudantes manifestavam apoio aos soldados e à “operação
especial“, o eufemismo do governo para se referir à invasão da Ucrânia.
Na
cidade de Elinsenvaara, um grupo de alunos foi posicionado para formar a letra
“Z” do lado de fora de uma escola. O diretor da escola justificou a
manifestação e contestou aqueles que têm chamado o símbolo de “zuástica”,
referência à marca do nazismo na Alemanha da Segunda Guerra Mundial.
“Se
as crianças ficarem com a bandeira,
isso é realmente ruim?” disse ele. “Não é uma suástica fascista…. Sim, é apoiar
o exército, mas acho que temos que apoiar o exército. Temos que criar
patriotas”.
Um
sinal de que o governo está por trás dessas manifestações é o frequente
envolvimento do partido Rússia
Unida, aliado de Putin. Muitas das postagens feitas por escolas em apoio à
guerra contam com links para sites da sigla, que também tem coordenado seus
próprios movimentos para fortalecer a propaganda estatal no país.
Na
cidade de Glinkino, na Sibéria, alunos do jardim de infância criaram um jornal
chamado We Are For Russia! (Estamos Unidos Pela Rússia!, em tradução
livre) e também decoraram as janelas das salas de aula com temas pró-guerra.
A
administração regional, do Rússia Unida, justificou a atividade. “Em um momento
tão complicado, o principal para os moradores de todo o nosso país é ser um
povo unido e firme, estar junto, não abandonar seus compatriotas e nossos
soldados, que todos os dias estão demonstrando heroísmo e força.
Já
os alunos de Kaliningrado aprenderam um hino que visa a ensinar as fronteiras
geográficas do país. A letra da música inclui as cidades de Odessa, Luhansk
e Donetsk, na Ucrânia, além do Estado norte-americano do Alasca e a região
de Transnístria, na Moldávia.
“Nós
não pegamos coisas estrangeiras, mas estamos pegando as nossas de volta”, diz a
letra. “Sabemos, lembramos, não esquecemos e defenderemos nosso país do Alasca
ao Kremlin”.
Segundo
uma mãe, que postou a letra da música na internet, os alunos passaram ao menos
uma semana aprendendo a música, que ela espera seja apresentada às famílias
como parte da celebração do Dia da Vitoria, 9 de maio, referência à derrota
nazista para a União Soviética na Segunda Guerra. Muitos analistas sugerem que
o presidente Vladimir
Putin quer usar a data para anunciar uma grande vitória na guerra.
Oposição
à propaganda
Nem
todos, porém, concordam com a iniciativa. Há rejeição inclusive entre os que
dizem concordar com a guerra. “Eu apoio a ‘operação
especial‘. Eu apoio meu país”, disse uma professora que prefere não ser
identificada. “Mas não vou dar essas tarefas aos meus alunos. Eu não gosto de
hipocrisia, e é exatamente isso que é. Não acho que as crianças sejam capazes
de julgar adequadamente sobre assuntos tão complicados. Na verdade, nem todos
os adultos são”.
Mesmo
os alunos têm contestado a iniciativa. Um jovem que precisava escrever uma
carta aos soldados mostrou insatisfação. “O que devo escrever? ‘Estou muito
feliz por você ter saído para matar pessoas’?”, afirmou. Sem saber como agir,
decidiu consultar os colegas. “Eles escreveram o que tinham que escrever para
que os professores não gritassem com eles. Eles apenas encontraram alguns
textos semelhantes na Internet e copiaram”.
Aleksandr
Solomko resolveu confrontar a direção da escola onde estuda o filho, de seis
anos, após se deparar com toda a propaganda estatal em apoio à guerra. Segundo
ele, a decisão foi tomada após o filho chegar em casa chorando, dizendo temer
que o pai e a mãe o abandonassem para lutar na Ucrânia, vez que são reservistas
do exército.
“Os
pais ficam em silêncio, como se nada estivesse acontecendo”, diz ele, que
conseguiu uma reunião com a diretora. “Ela disse que ela mesma não apoia a
ideia de fazer propaganda para crianças. Tivemos uma conversa normal, sem
escândalo, e ela prometeu se livrar de toda a propaganda em poucos dias. Quando
voltamos, dois dias depois, tudo tinha sumido”.
Valery
Bovar, um político de São Petesburgo, foi além e distribuiu uma carta a mães e
pais informando sobre todas as leis violadas pela propaganda estatal nas
escolas. Assim, pediu que eles conversassem com os diretores das escolas onde
estudam os filhos. E informou que pais e mães têm, sim o direito de solicitar
que os filhos não tenham suas imagens associadas à campanha.
Os
mortos de Putin
Desde
que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve
envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com
inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de
vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai
aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia
Na
conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso,
ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro
do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a
invasão à Ucrânia que
colocou o mundo em alerta.
Fonte: A Referência
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