OPINIÃO: A união da terceira via

 

 Leco Viana/TheNews2; Marco Ankosqui; EVARISTO SA/AFP
Por: Carlos José Marques, diretor editorial da Revista ISTO É

Em meio a uma corrida eleitoral sangrenta e perigosa entre os polos extremistas de Lula e Bolsonaro, o Brasil começa a perceber que está cada dia mais próxima a formação de uma terceira via sólida, unida e competitiva para enfrentar o que pode ser visto como uma espécie de eixo do mal. Ela ainda não tem cara definitiva, está em montagem, sendo negociada. Mas os sinais de sua viabilidade são concretos.

Os postulantes que se encaixam nessa alternativa já acenam com a atuação em bloco, cedendo espaço ao mais promissor e potencialmente vitorioso, numa chapa que trará a sensatez e a civilidade de volta ao tabuleiro do jogo. É um discurso uniforme entre eles, que já verbalizaram isso em público. Cada um dos candidatos apresentados espera para ver quem dentre todos tocará mais fundo corações e mentes dos eleitores para eventualmente declinar do projeto pessoal em prol de uma saída concreta para o País

Existem inúmeros outros fatores a considerar do que a simples liderança numérica lá na frente na hora dessa escolha da composição. Nem sempre – aliás, quase nunca! – aquele que larga na dianteira demonstra maior poder de crescimento para chegar vivo e brigando cabeça a cabeça na reta final. Percentual de votos por recall de lembrança é algo que não traduz os complexos ingredientes de uma eleição acirrada como essa. Ela se desenvolverá e mostrará as ferramentas mais eficazes mesmo quando a disputa de fato tiver início.

A terceira via não pode se dar ao luxo de esperar até lá para concretizar a união dos postulantes. Não teria tempo hábil, no curto prazo de meses, para investir na penetração maciça e taxa de adesão nos currais de votos mais longínquos do Brasil. Para além da sensação de rosto melhor palatável, contarão a estrutura partidária regional, os recursos financeiros, o tempo de TV, a bancada parlamentar que dê suporte ao candidato, a máquina completa de campanha, enfim, que terá de trabalhar muito por essa viabilidade da terceira via.

A força de siglas tradicionais, majoritárias, é parte substancial do processo. Alcançar as regiões mais distantes, nos píncaros do interior e do sertão, por exemplo, requer tradição partidária local, com filiais ativas. Nesse sentido, no campo da experiência e da máquina, o Brasil passou boa parte das últimas três décadas assistindo a um embate concentrado entre petistas e tucanos, que afiaram seus instrumentos e ampliaram o know how de como fazer campanhas efetivamente proativas.

Diante da realidade de um atual presidente-candidato populista, espécie de mandatário acidental, de fora do bloco, e um petista com experiência de carteirinha nessas pelejas, a opção por João Doria “trabalhador” (seu slogan), do PSDB, com baixíssima taxa de rejeição, a bandeira de “pai da vacina” (que deu início a operação a contragosto do Planalto), governador do Estado mais rico do País – onde faz uma gestão digna de nota, com resultados sociais e econômicos inegáveis – e o poderio do tucanato, parece a mais lógica.

No contexto em que o Brasil está, o cálculo potencial para a definição de uma alternativa tem de ser matemático. A candidata do MDB, senadora Simone Tebet, apesar do discurso consistente, da experiência congressista e de ser uma representante feminina (o que ajuda em muito), não detém um plantel de realizações digno de realce, é quase desconhecida do grande público e não é calejada em eleições majoritárias.

O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, um herói nacional, sem dúvida, por toda a trajetória irrepreensível no combate à corrupção com a Operação Lava Jato, tem, por isso mesmo, visibilidade nacional, reputação ilibada, embora lhe falte o essencial: apoio político amplo (seu partido é nanico e os parlamentares, em geral, torcem-lhe o nariz, justamente pela perseguição que empreendeu a muitos de seus correligionários); caixa financeiro suficiente para bancar uma campanha dessa envergadura e traquejo na arte de lidar com eleitores.

Moro tem notórios problemas na comunicação (até no modo de falar, que precisou de ser ajustado), uma expertise quase monotemática no campo da Justiça e não se mostra à vontade para a guerra dura de narrativas que terá de enfrentar. Dito tudo isso, a terceira via conta, mesmo assim, com opções bem menos ensandecidas e espoliadoras do Estado que as predominantes até aqui. Nas pesquisas, o “não” a Lula e Bolsonaro – especialmente ao segundo – detém um índice percentualmente considerável a ser conquistado para as fileiras do centro. Na chapa dos sonhos, como uma espécie de “dream team”, muitos defensores advogam o governador João Doria de titular, trazendo Simone Tebet de vice e Moro para o Senado. De uma maneira ou de outra, o trio junto constitui decerto um bloco que pode fazer a diferença para a escolha nas urnas.

Artigo publicado originalmente pela Revista eletrônica Isto É ((Link)


Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com

AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.

Faça um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem