Da redação
Primeiro
afro-americano a ganhar um Oscar de melhor ator tinha 94 anos. Em mais de
quatro décadas de atuação, Poitier protagonizou clássicos como "No calor
da noite" e "Acorrentados".
Sidney
Poitier, o ator que transformou a forma como os negros eram retratados no
cinema e que se tornou o primeiro afro-americano a ganhar um Oscar de melhor
atuação, morreu nesta sexta-feira (07/01) nas Bahamas, terra natal dos seus
pais. Sua morte, aos 94 anos, foi confirmada pelo Ministério do Exterior do
país insular.
Poucas
estrelas de cinema, negras ou brancas, tiveram uma carreira tão inovadora e
longa quanto Poitier. Antes dele, nenhum ator negro conseguira ter uma carreira
duradoura como protagonista nos Estados Unidos, ou poderia imaginar produzir
filmes com base em sua própria influência como estrela. Antes, Hollywood
raramente arriscava contar a história de um protagonista negro.
A
própria ascensão de Poitier na indústria cinematográfica refletiu mudanças
profundas nos EUA nos anos 1950 e 1960. À medida que as atitudes raciais
evoluíam, com a luta pelos direitos civis, e eram desafiadas as leis de
segregação que vigoravam no país, Poitier foi o artista que estampou essas
mudanças no cinema.
Conquistas
revolucionárias em Hollywood
Em
1958, o ator pioneiro se tornou a primeiro negro indicado ao Oscar de melhor
ator principal por Acorrentados (1958). Seis anos mais tarde, foi o
primeiro a ganhar o prêmio por sua atuação em Uma voz nas sombras.
Ao
receber o Oscar histórico, Poitier disse ao público, composto na maioria por
brancos, que havia sido "uma longa jornada até este momento". Mas
seriam precisos mais 38 anos até que outro ator negro, Denzel Washington,
vencesse na categoria.
"A
indústria cinematográfica ainda não estava pronta para elevar mais de uma
personalidade das minorias à categoria de estrela", escreveu Poitier em
sua autobiografia This life. "Na época, [...] eu encarnava as
esperanças de todo um povo. Não tinha controle sobre o conteúdo dos filmes
[...] mas podia recusar um papel, o que fiz muitas vezes".
Poitier
recebeu ainda um Oscar honorário em 2002, "em reconhecimento de suas
conquistas notáveis como artista e ser humano" e por sua "dignidade,
estilo e inteligência".
"Aceito
este prêmio em nome de todos os atores e atrizes afro-americanos que me
precederam nos anos difíceis e sobre cujos ombros tive o privilégio de ver
aonde posso chegar", disse Poitier na ocasião. Por coincidência,
Washington, que lhe entregou a estatueta, se tornou o segundo vencedor negro de
melhor ator naquela mesma noite de 2002, que também viu Halle Berry se tornar a
primeira – e, até hoje, única – "melhor atriz principal"
afro-americana .
De
lavador de pratos a protagonista no cinema
Sidney
Poitier nasceu em 1927, no estado da Flórida, Sul dos EUA, para onde seu pai,
um plantador de tomates das Bahamas, viajava regularmente para vender sua
produção. Nas Bahamas, cresceu num ambiente de pobreza. Aos 15 anos, voltou a
Miami para viver com um irmão. No Sul dos EUA, vivenciou uma rotina de discriminação
racial.
O
jovem logo se mudou para Nova York, onde trabalhou como lavador de pratos e
ajudante de garçom. Durante a Segunda Guerra Mundial, ingressou no Exército dos
Estados Unidos. Após o conflito, voltou para Nova York com o desejo de se
tornar ator.
Poitier
fez esforços para perder seu sotaque caribenho. Conseguiu seu primeiro trabalho
como ator nos palcos em 1945, como substituto numa peça de outro astro negro,
Harry Belafonte, antes de fazer sua estreia na Broadway em uma produção
totalmente negra da comédia grega Lisístrata.
No
início dos anos 1950, e ele estrelou o filme O ódio é cego. A película foi
rapidamente seguida por clássicos como Sementes de violência e Um
homem tem três metros de altura.
Filmes
de temática social
A
partir de Sangue sobre a terra, de 1957 – que retrata o levante
anticolonial Mau Mau no Quênia – suas escolhas se voltaram mais
consistentemente para temas raciais, como em Acorrentados (1958) –
onde Poitier é um preso em fuga acorrentado a um racista interpretado por Tony
Curtis –, O sol tornará a brilhar (1961), e no policial No calor
da noite (1967) e sua sequência, Noite sem fim (1970).
Em Adivinhe
quem vem para jantar (1967), interpretou o noivo de uma jovem burguesa
branca que o apresenta a seus pais, um casal de intelectuais que acredita ter a
mente aberta.
Em
1966, em Ao mestre com carinho, encarnou um de seus papéis mais
conhecidos, o professor Mark Thackeray, que dá aula numa escola da periferia de
Londres. O filme teve uma sequência tardia, produzida diretamente para a TV nos
anos 1990 e dirigida por Peter Bogdanovich, que também morreu no início de
janeiro de 2022, aos 84 anos.
No
fim das décadas de 1970 e 1980, Poitier passou para trás das câmeras, dirigindo
e escalando atores negros para papéis tradicionalmente brancos, antes de mudar
para comédias despreocupadas com Gene Wilder (Loucos de dar nó) e Bill Cosby (Papai
Fantasma). Nos anos 1990, fez apenas aparições esporádicas nas telas. Seu
último papel numa grande produção foi em O Chacal (1997), ao lado de
Bruce Willis e Richard Gere.
Na
televisão, Poitier retratou ícones da história, como o primeiro presidente
negro da África do Sul, Nelson Mandela, e o primeiro juiz negro da Suprema
Corte dos Estados Unidos, Thurgood Marshall. Em 2009, recebeu do presidente
Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior homenagem civil dos
EUA.
Poitier
deixa sua esposa, Joanna, com quem era casado desde 1976, e seis filhos, além
de vários netos e bisnetos.
Com informações do site de noticias internacionais DW
Para ler mais
acesse, www: professortacianomedrado.com
AVISO: Os
comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do
Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou
reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem
de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados
que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.
Postar um comentário