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Daniel Teixeira/Estadão Carnaval no Largo da Batata, localizado no bairro
de Pinheiros, em São Paulo; Capital paulista anunciou cancelamento do
carnaval de rua nesta quinta-feira, mas manteve desfiles de escola de samba e
festas privadas
Da redação
O aumento dos casos de covid-19 e a epidemia de gripe no Brasil tornam a realização do carnaval deste ano um risco para a saúde pública, seja na folia de rua, nos desfiles de escolas de samba ou nas festas privadas. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo Estadão, que julgam o cancelamento do carnaval de rua anunciado em várias capitais um "remédio amargo, mas necessário". As informações são de Luiz Henrique Gomes do Estadão.
Segundo
os especialistas, o cancelamento é justificado pelo cenário epidemiológico
atual do Brasil, além da baixa testagem e da circulação da variante Ômicron -
que tem se espalhado mais rápido do que outras variantes em todo o mundo. No
entanto, reconhecem que a não realização do carnaval pelo segundo ano consecutivo
tem prejuízos socioeconômicos e culturais altos para o País. Por isso, defendem
debate amplo das autoridades para encontrar alternativas de apoio.
Na
avaliação do infectologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o ideal é haver
menos aglomeração possível enquanto houver aumento de casos e pressão sobre
hospitais, cenário registrado em Estados como Bahia, Minas e Pernambuco neste
início de ano. “É muito difícil dizer qual o local ideal para o equilíbrio da
balança, mas ainda assim tem que se encontrar um caminho com a máxima restrição
de público”, disse.
As
festas privadas estão mantidas na maioria das capitais brasileiras, apesar do
cancelamento do carnaval de rua. Os desfiles de escolas de samba do Rio e de
São Paulo também continuam autorizados. Nas duas situações, a existência dos
protocolos sanitários, como passaporte de vacina e apresentação de teste para a
covid-19, é utilizada como argumento para a realização dos eventos com
segurança.
Entretanto,
segundo o epidemiologista Fred Diaz Quijano, da Universidade de São Paulo (USP), os protocolos têm um grau
de efetividade limitado, insuficiente para controlar a pandemia. Ele afirma que
medidas como o passaporte de vacina e apresentação de teste negativo ajudam a
evitar a transmissão do vírus, mas dentro de uma situação em que a pandemia
está controlada. “Numa situação de pico, o risco de transmissão é alto mesmo
com os protocolos”, declarou. Nos cruzeiros, por exemplo, a fixação dessas
medidas não impediu surtos entre o fim do ano e o início de janeiro.
O
epidemiologista Roberto Medronho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defende, por
um lado, que os desfiles e as festas privadas também sejam cancelados por causa
da explosão de casos e a circulação da Ômicron", apesar do "cansaço
na população depois de dois anos de pandemia”.
Para
Medronho, as autoridades precisam iniciar um debate com a sociedade para
avaliar até onde vale a pena correr risco para manter festas carnavalescas.
Ligado a dois blocos tradicionais no Rio - o Simpatia Quase Amor e
o Bloco do Barbas - e compositor de samba, Medronho propõe como
alternativa adiar o carnaval para outra data e fazer uma festa fora de época.
“Cancelar o carnaval é uma medida muito dura depois de dois anos de pandemia,
por isso há de se ter um debate para encontrar alternativas”, disse.
Realizar
o desfile das escolas de samba sem público e diminuir o número máximo de
pessoas em eventos fechados são outras possibilidades que podem ser discutidas
até o final de fevereiro. "Tudo vai depender de qual o risco a sociedade
quer correr para ter as festas", continuou Medronho.
A
alternativa debatida por alguns gestores para o carnaval de rua foi a
realização de festas dos blocos em espaços fechados. No Rio, o prefeito Eduardo Paes (DEM) chegou a propor que eles saíssem
em três pontos da cidade, nos quais seria possível realizar o controle de
entrada com testes e passaporte de vacina, mas a ideia não foi bem aceita.
Alguns blocos do Rio e de outras capitais discutem fazer festas privadas
menores, com protocolos sanitários.
Para
os especialistas, essa alternativa poderia ser segura se o cenário
epidemiológico da pandemia melhorar até a data do carnaval deste ano, entre 28
de fevereiro e 1º de março. Entretanto, eles não acreditam que os casos caíam
até lá. “A gente está começando a viver uma onda gerada pela Ômicron agora, que
deve durar entre dois a três meses, pelo o que vemos no mundo”, declarou o
epidemiologia Roberto Medronho.
Segundo
a microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de
Ciência (IQC), o mais provável é que a realização do carnaval cause uma
explosão de casos de covid-19 gerados pela variante Ômicron. Apesar da variante
se mostrar menos letal do que outras, a cientista alerta que ela pode causar um
efeito dominó na rede de saúde.
Na
avaliação de Natalia, a variante tem capacidade de se disseminar de maneira tão
veloz que, mesmo com a maioria dos casos sendo leves, muitos irão refletir em
hospitalizações e pressão sobre leitos. “Uma explosão de casos vai levar muita
gente ao ambulatório e à hospitalização. Pessoas vulneráveis vão morrer e o
atendimento a outras doenças vai ficar comprometido. A gente não precisa correr
esse risco”, avaliou.
Ela
ainda ponderou que a preocupação socioeconômica do carnaval deve ser discutida
com diversos agentes, mas que o prejuízo da realização da festa pode ser maior.
Ela citou o exemplo dos Estados Unidos, onde o alto contágio da Ômicron
nas companhias aéreas levou ao cancelamento de voos e paralisou o setor de
turismo. “Tudo isso deve ser pensado de maneira que o gestor de saúde encontre
o equilíbrio com outros setores.”
Protocolos
precisam ser padronizados, afirma infectologista
Carlos
Magno Fortaleza, professor da Unesp, defende uniformizar os protocolos adotados
em eventos com grande público, como jogos de futebol e festas, para aumentar a
eficácia do controle. Ele diz que o ideal seria haver o mínimo de aglomeração
neste momento, mas, na impossibilidade da medida, os protocolos precisam de
melhorias.
Um
exemplo da falta de padronização é o risco de testes falsos negativo em eventos
que exigem a apresentação do teste antígeno sem nenhum critério. Nesse tipo de
teste, a sensibilidade para detectar a infecção por covid-19 é menor depois do
quinto dia de infecção. A ausência de regras que evitem esse tipo de situação é
o que pode induzir o público ao erro, disse Carlos Magno Fortaleza.
Algumas
cidades, como Recife, São Paulo e o Rio de Janeiro, reavaliam os
protocolos sanitários diante do aumento de casos. Nesta quinta-feira, 6, a
secretária municipal de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, disse que na
semana que vem já pode haver mudanças. Em São Paulo, o prefeito Ricardo
Nunes (MDB) anunciou que vai tornar o passaporte vacinal obrigatório
para todos os eventos - antes, a medida era válida para eventos acima de 500
pessoas.
O
epidemiologista Fred Diaz Quijano, da USP, afirmou que mais importante do que
os protocolos é avançar com a campanha de vacinação. “Somente com a vacinação
de crianças e a dose de reforços, teremos o controle da pandemia. Os protocolos
são efetivos quando a gente compara com a ausência de protocolos, mas a sua
capacidade depende do contexto epidemiológico.”
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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