Artigo publicado originalmente pelo portal Agência Brasil.
Estudo
conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e colaboração de
pesquisadores do Hospital Universitário de Oslo, na Noruega, mostrou que 31,4%
das pessoas internadas por trauma no Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina (HC/FM-USP) apresentavam traços de consumo de substâncias psicoativas.
O
álcool foi a substância mais encontrada, com 23%, seguido da cocaína (12%) e da
maconha (5%). Em 9% das amostras de sangue foram encontrados sinais de mais de
uma droga.
O
estudo foi feito entre julho de 2018 e junho de 2019 com pacientes maiores de
18 anos que tiveram lesões traumáticas por acidentes de trânsito, quedas e
episódios de violência, como agressões, armas de fogo e esfaqueamentos.
Entre
os pesquisados, 44% apresentaram algum padrão de consumo prejudicial de álcool.
Com idade média de 36 anos, os 376 participantes do estudo, dos quais 80% eram
homens, foram recrutados dentro do próprio Hospital das Clínicas. As amostras
de sangue eram coletadas depois de os pacientes já estarem estabilizados, no
máximo seis horas depois do acidente. Os voluntários também responderam
questões socioeconômicas.
Segundo
a pesquisa, das hospitalizações analisadas, 56% foram causadas por acidentes de
trânsito, e quase metade deles envolveu motociclistas. Entre estas pessoas, 31%
tiveram resultado positivo em testes sobre uso de entorpecentes. Entre os
voluntários do estudo, a prevalência de consumo de substâncias psicoativas era
maior em homens (35%), indivíduos entre 18 e 39 anos (41%), solteiros (43%) e
pacientes que sofreram traumas no período noturno (44%).
“São
grupos que tendem a consumir mais drogas e a se expor mais a situações de
risco. O álcool ainda é a substância de maior preocupação em questão de saúde
pública. O dado interessante é que os mais impactados por esses acidentes foram
os motociclistas. Pela primeira vez, motociclistas ultrapassaram pedestres em
taxa de letalidade, porque eram o principal grupo atingido. Desde 2018, eles
ocupam a primeira colocação, talvez pelo aumento do número de aplicativos de
entrega”, disse Henrique Bombana, um dos autores do estudo e pesquisador
colaborador do Centro de Ciências Forenses da FM-USP.
Bombana
destacou que, quanto mais grave o acidente, maior a prevalência do uso de
drogas. “Alguns estudos já demonstram que pacientes com lesões traumáticas que
fizeram uso de substâncias estimulantes, como cocaína, tendem a ter lesões mais
graves do que aqueles que não usaram nada. Nós conseguimos observar, comparando
com outros estudos, que também com motoristas no trânsito, a sequência do uso
do álcool e drogas aumenta com relação a acidentes e mortes."
Treze
por cento dos participantes da pesquisa foram hospitalizados em decorrência de
atos violentos. Metade apresentava lesões por armas de fogo, um quarto por
agressões físicas e um quinto por traumas penetrantes, como esfaqueamentos.
Nesse grupo, foi maior a prevalência de uso de álcool e drogas ilícitas (44%) e
mais baixa a média de idade (31 anos). Nas agressões físicas, as amostras
positivas para entorpecentes chegaram a 75%.
As
internações provenientes de quedas representaram 32% dos indivíduos, com idade
média de 42 anos, dos quais 29% haviam consumido álcool ou drogas ilícitas. O
estudo também indicou que a prevalência do uso de cocaína foi maior entre os
pacientes e que a combinação entre álcool e cocaína foi a mais encontrada nas
amostras dessa investigação.
De
acordo com Bombana, não havia dados sobre o uso dessas substâncias entre pacientes
graves de traumas e a existência de tais informações poderia contribuir para a
elaboração de políticas públicas de conscientização e prevenção. Para o
pesquisador, ainda é preciso aprofundar os estudos com relação ao tema, mas é
possível afirmar que é necessário que fiscalizar, principalmente no trânsito,
não só o consumo de álcool, que já é feito, mas de outras drogas, como cocaína
e maconha. “Existem alguns métodos para isso, mas não são usados no Brasil,
também por falta de investimento”, afirmou.
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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