Dano causado por cabo danificado em agosto de 2020 no telescópio de Arecibo, em Porto Rico Imagem: UCF Today
Da: Redação
Prof.Taciano Medrado
Prof.Taciano Medrado
A Fundação Nacional de Ciências (NSF) divulgou dois
impressionantes vídeos do exato instante do desabamento do icônico telescópio
do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, na última terça-feira (1º). Foi
assim, com um estrondo, que 57 anos de serviços à ciência se encerraram.
As imagens, feitas por um drone e por uma câmera de
monitoramento, mostram os cabos de aço se rompendo e a plataforma receptora
suspensa, de 900 toneladas, caindo e levando junto com ela pedaços das torres
de sustentação. Tudo caiu dentro do prato de 300 metros do radiotelescópio
O impacto destruiu boa parte da estrutura em solo e levantou uma
grande nuvem de poeira e detritos.
O radiotelescópio já estava em colapso há alguns meses, sem
possibilidade de um reparo seguro. Ele seria demolido controladamente por
engenheiros, antes que desabasse —mas não deu tempo. Desde novembro, após o
rompimento dos dois primeiros cabos, o local era monitorado por câmeras e
drones, pois já se esperava a tragédia. No momento do desabamento, o operador
do drone conseguiu rapidamente posicioná-lo e virar a câmera para acompanhar o
desabamento.
A plataforma de metal abrigava instrumentos e ficava suspensa a
137 metros de altura, sobre a enorme antena refletora, sustentada por diversos
cabos de aço conectados a três torres.
Agora, a NSF, organização norte-americana que administra o
observatório, está estudando a maneira mais segura e eficiente de limpar o
local e demolir o que restou do telescópio. Ela espera ao menos salvar um
conjunto de edifícios que ficam abaixo de uma das torres. Assim, o Observatório
de Arecibo poderá permanecer aberto —apesar de ficar sem seu principal
instrumento e marca registrada.
Descobertas A perda do telescópio é um grande golpe para a busca
da humanidade por vida extraterrestre e para nossa capacidade de defender o
planeta contra o impacto de asteroides. A antena gigante é a marca registrada
de Arecibo, que até 2016 ocupou o posto de maior radiotelescópio do mundo —foi
ultrapassado pela Fast, na China, de 500 metros. Diferente de um telescópio
óptico, que produz imagens a partir da luz visível, um radiotelescópio observa
as ondas de rádio, por meio de uma ou mais antenas parabólicas, sem lentes ou
espelhos.
Inaugurado em 1963, incrustado na floresta caribenha, Arecibo
contribuiu para estudos de radioastronomia e ciências atmosféricas, buscou
asteroides e cometas ameaçadores à Terra, procurou sinais de tecnologia
alienígena, descobriu o primeiro planeta além do nosso Sistema Solar. Em 1974,
emitiu a primeira e mais poderosa transmissão que a Terra já enviou para se
comunicar com possíveis aliens. Em 2016, detectou as primeiras rajadas rápidas
de rádio repetitivas —sinais espaciais misteriosos, que talvez venham de
estrelas morta.
Ele é fundamental na investigação de rochas espaciais perigosas,
apesar de não as observar diretamente. O telescópio faz um "ping" com
radar (sinal que vai e volta), para decifrar sua forma, rotação,
características de superfície e trajetória através do espaço —variantes que a
luz visível, por si só, não oferece. Sem esses dados, é muito mais difícil
saber se um asteroide está se movendo em direção à Terra.
Cultura pop
O telescópio era tão icônico que faz parte da cultura pop. Ele
apareceu nos filmes "007 Contra GoldenEye" (1995) e
"Contato" (1997), sendo este último baseado no livro de Carl Sagan,
um romance de ficção científica sobre vida inteligente fora do nosso planeta.
Sagan tem outra conexão com Arecibo. Na década de 1970, junto
com outros cientistas, ele criou uma mensagem codificada para civilizações
extraterrestres. Na época, ela foi enviada ao espaço de duas maneiras: em uma
placa banhada a ouro, colocada na sonda Pioneer 10, e em ondas de rádio,
disparadas de Arecibo em direção ao aglomerado de estrelas M13, a 25 mil
anos-luz da Terra. Essas ondas ainda estão ecoando pelo espaço-tempo.
Você também já deve ter visto a icônica capa do disco
"Unknown Pleasures" (1979), da banda Joy Division, provavelmente em
uma camiseta por aí. A ilustração que parece uma cadeia de montanhas, na
verdade, representa 80 pulsos de rádio (cada um é uma linha) emitidos pelo
pulsar PSR B1919+21, uma estrela de nêutrons a 51 anos-luz da Terra. Seu sinal
foi captado pela antena de Arecibo.
Para os fãs de games, o mapa Rogue Transmission do jogo
"Battlefield 4" foi inspirado em Arecibo
Catástrofe anunciada
Com o fim de Arecibo, os Estados Unidos e o
mundo perdem grande parte de sua capacidade de realizar pesquisas
interplanetárias com sinais de rádio. Ele e o Fast eram os dois grandes olhos
da Terra na radioastronomia, se complementando em alguns estudos realizados 24
horas por dia. Agora, estamos caolhos.
Diversos furacões e tempestades tropicais causaram danos leves à
estrutura na última década. Mas o trágico destino do telescópio começou a ser
selado em 10 de agosto deste ano, após a passagem do furacão Isaías sobre a
ilha de Porto Rico. Um cabo de aço auxiliar, de 3 polegadas de espessura, se
soltou de uma das três torres e chicoteou o disco abaixo, abrindo uma fenda de
30 metros nos painéis.
Em 7 de novembro, antes que os reparos pudessem começar, um
segundo cabo, mais grosso e principal da mesma torre, quebrou e também atingiu
o prato. Os engenheiros decidiram que não podiam mais confiar na estrutura e
ela foi condenada, para desespero da comunidade astronômica
Uma petição online já reivindica a reconstrução do telescópio.
Mesmo se isso não acontecer, pesquisadores ainda poderão usar os dados
arquivados em seus estudos. De qualquer forma, Arecibo deixará um grande legado
para a ciência e para a humanidade.
Para ler outras
matérias acesse, www: professortacianomedrado.com
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