O governador Rui Costa voltou a falar sobre uma ampla
frente em defesa da democracia no Brasil. Porém, dessa vez, incluiu uma
proposta ainda menos palpável: a fusão de PT, PSB e PCdoB, para formar uma
bancada que não seria alvo de “boicote da mídia”, para usar a mesma expressão
citada por Rui e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em um mundo
perfeito, a ideia poderia até ser levada a cabo. Na dura realidade brasileira,
não deve acontecer nenhuma negociação nesse sentido.
Não vou entrar no mérito do “boicote”. É meio constrangedor
esse discurso de que há um complô da mídia contra a oposição no país. A falta
de organização e a ausência de uma liderança que consiga dialogar com as mais
diversas frentes adversárias do presidente Jair Bolsonaro explicam mais essa
espiral de silêncio do que a teoria de conspiração que a embasa. Tratar o
comportamento da mídia como um boicote, inclusive, coloca o bolsonarismo e o
petismo em um barco muito parecido.
Na proposta de Rui para aglutinar a oposição, a fusão entre
PT, PSB e PCdoB pode fazer sentido para os petistas. Porém a iniciativa não
deve agradar as outras duas legendas, que seriam engolidas pela estrutura
partidária e pelo comando dos caciques da estrela vermelha. Socialistas e
comunistas, que permaneceram como satélites do período em que o PT esteve no
Palácio do Planalto, conseguiram maior visibilidade a partir do momento em que
buscaram a dissociação da asa do antigo aliado. O exemplo mais claro disso é o
falecido ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, cuja tentativa de se
desprender do petismo rendeu uma candidatura viável, interrompida por um
trágico acidente de avião.
O PT não sabe dividir espaços. É uma legenda que prefere o
protagonismo a qualquer custo - e isso não é necessariamente um erro. Só que
esse histórico serve como sinalização de que não existiria uma fusão com
equidade. Qualquer legenda que opte por ela seria deglutida pela legenda sem
qualquer cerimônia, basta ver o comportamento em disputas eleitorais recentes -
a candidatura da Major Denice em Salvador é apenas o mais fresco na memória.
Uma coalizão em defesa da democracia, envolvendo opostos
como DEM e PT para ficar na conjectura anterior de Rui, é muito mais plausível
do que a simples digestão de siglas pelos petistas. Talvez tenha sido essa a
estratégia do governador baiano: apostar alto para garantir um mínimo de avanço
nas discussões. Mesmo que elas se limitem ao campo das ideias.
fonte: Bahia Noticias
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