ASSOCIAÇÃO BAHIANA DE IMPRENSA (ABI) TEM NOVO PRESIDENTE: “DEFENDEREI O LIVRE EXERCÍCIO DO JORNALISMO”,



Da:  Redação
Prof. Taciano Medrado

O novo presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), o jornalista Ernesto Marques, foi empossado no último dia 10, há exatos 90 anos da posse da primeira diretoria da entidade, ocupada por Altamirando Requião. Eleita para o biênio 2020-2022, a nova gestão tem na vice-presidência o jornalista e escritor Luís Guilherme  Tavares. Antes de tomar posse como presidente, Marques ocupava a vice-presidência da ABI. Baiano de Ipirá. Ele é formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), foi assessor parlamentar, assessor de imprensa do governador Jaques Wagner, secretário de Comunicação de Vitória da Conquista, com o prefeito Guilherme Menezes, e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Rádio, Televisão e Publicidade.  Nessa entrevista, ele reforça a missão da ABI na luta pela democracia e fala sobre os projetos e desafios da instituição para os próximos anos.

Diante da recente comemoração dos 90 anos da ABI, no dia 17 de agosto, quais os compromissos assumidos pela nova gestão para o biênio 2020-2022?

Nos comprometemos com as questões deste período de mandato, mas, sobretudo, desejamos colocar em cada ação nossa um olhar para o futuro, pensando a ABI como instituição perene, pensando na entidade que desejamos deixar como legado. Isso envolve aprofundar o nosso projeto de comunicação, já iniciado, buscando sintonia com o mundo da comunicação de hoje e caminhar junto, para não ser necessário esforços futuros de atualização. Envolve planejar atividades culturais, acadêmicas e de formação profissional através de parcerias institucionais para nos fazermos cada vez mais importantes na vida de profissionais e empresas da área. Consequência natural, esperamos receber mais pedidos de associação de profissionais, dirigentes e empresários da área, se, pelos resultados destas ações, conseguirmos fazer a ABI ser cada vez mais reconhecida por quem faz a comunicação baiana. Penso que, a partir destes compromissos gerais, se desdobram inúmeros outros que precisam ser cumpridos para vermos as grandes metas se realizando.

Como a sua trajetória no jornalismo pode contribuir para a continuidade das lutas históricas da ABI e o enfrentamento dos novos desafios?

Alguns colegas me saudaram como o primeiro presidente, desde a fundação, vindo dos profissionais da comunicação - sem ser empresário ou dirigente de empresas. Outros lembram de mim como sindicalista que fui ou como ativista pelos direitos humanos e dos movimentos de luta pela democratização da comunicação. Acredito que isso, em alguma medida, aproxima ou pelo menos convida quem se mantinha distante ou indiferente, ao constatar que o presidente da ABI é um jornalista e radialista, um trabalhador como qualquer colega de redação ou de assessoria. O meu desejo é que o meu perfil ajude a construir pontes de diálogo entre diferentes gerações, linguagens e mesmo entre empresários e profissionais, porque sinto falta de espaços para aprofundamento de debates sobre os grandes temas que afetam a cadeia produtiva de comunicação e cultura e que terminam modelando o ambiente em que disputamos um lugar ao sol. Acredito na possibilidade de ganharmos todos, se passarmos a dialogar intersetorialmente, produtores culturais, realizadores, jornalistas, radialistas, publicitários…

Na defesa dos compromissos defendidos pela ABI, sempre que for necessário, como será a comunicação e relação da entidade com órgãos públicos, privados, sindicais?

Será, essencialmente, como tem sido, compatível com a natureza e os objetivos da ABI desde a sua fundação. Feitos os ajustes de forma (mensagem) e assumidos os nossos próprios meios (site e redes sociais, campanhas institucionais), seguiremos buscando proximidade cada vez maior com o nosso meio e diálogo com instituições públicas e privadas com as quais seja necessário interagir. E buscaremos ampliar o reconhecimento da sociedade como instituição que cuida da memória e da história da Bahia, guardiã da democracia e potencial parceira de outras instituições públicas e privadas comprometidas com o desenvolvimento da nossa terra.

Com a mudança de parte dos membros da entidade e ocupação de cargos chaves por mulheres, a exemplo da suplente Julieta Isensée, é possível afirmar que a  presença feminina em funções executivas é um traço da nova gestão?

Sem dúvida, e elas não estão para mera figuração. E o êxito deste reconhecimento certamente estimulará novas colegas  a se associarem e participarem da vida da ABI. Em paralelo, há um viés geracional igualmente importante. Quando passei um "pente-fino" no cadastro de associados, o esforço era equilibrar juventude, maturidade, disposição, disponibilidade e representatividade. A busca por modernidade não significa nenhum menosprezo a biografias belíssimas de decanos que contribuem muito em nosso cotidiano - não pode ser um fetiche. Assim como a presença feminina não pode ser e não é um mero adorno ou adequação a um discurso aceitável. No pronunciamento de posse falei muito sobre a necessidade de combatermos o racismo, o machismo e o preconceito geracional. Incorporar as pautas que derivam deste posicionamento será, sem dúvida, um traço marcante deste ciclo.

Qual a avaliação da importância de projetos como a reinauguração do Museu de Imprensa? A exemplo do Museu, existem novos projetos  da ABI em curso?

O Museu de Imprensa é um tesouro ainda muito pouco conhecido. Perseguimos a reabertura da área de exposições e uma ampla reestruturação desde 2011, quando Walter Pinheiro e eu assumimos presidência e vice, tendo o Museu como meta prioritária. Nós nos preparamos para isso, a ponto de termos realizado o projeto sem qualquer tipo de apoio ou patrocínio num momento de grave crise do setor cultural. Entre outros projetos, desejamos retomar os prêmios ABI de Jornalismo. Também queremos intensificar a programação de eventos culturais em nosso auditório (Saraus da Imprensa, Série Lunar e outros). Está nos planos a criação de um selo editorial voltado para dar vazão à produção literária de profissionais da comunicação. Nossa pretensão também é acelerar o projeto Memória da Imprensa e, a partir da repercussão da etapa com a vida de Florisvaldo Mattos, perenizarmos a vida profissional de dez grandes nomes da comunicação baiana, numa primeira fase. Além do grande desafio da nossa gestão, que é o soerguimento do Museu casa de Ruy Barbosa, com a restauração do imóvel e do acervo.

Em momento de fake news, polarização política e obstáculos ao trabalho dos veículos imprensa, a exemplo da falta de transparência de dados, é possível afirmar que a ABI tem um desafio complexo pela frente?

Encarar este desafio é uma necessidade e uma missão da qual não se pode fugir. É espinhoso e, em alguma medida, até mesmo perigoso, porque exige caminhar no fio da navalha. Mas não se pode deixar de atuar, seja participando de um grande esforço meta-reflexivo, seja assumindo posição diante de situações mais graves. Infelizmente situações graves se tornaram quase cotidianas e isso nos coloca diante do risco de banalizar certas ocorrências, a exemplo do destempero do nosso presidente da República diante da imprensa, enquanto instituição, do jornalismo, enquanto profissão, e dos profissionais, que merecem ser respeitados na sua missão que qualquer sociedade democrática reconhece como de extrema relevância. Banalizar essas coisas é, mal - ou bem - comparando, o perigo da banalização do mal, como dito por Hannah Arendt. Quando alguém com trajetória semelhante à minha, assume um lugar como a presidência de uma instituição como a ABI, não tem o direito de praticar autocensura ou abjurar o passado ou suas convicções para tentar dar provas disso ou daquilo. Assumo todos os riscos, mas, no que couber ao presidente da ABI, defenderei a democracia, as liberdades, o direito à informação, o jornalismo e o livre exercício da nossa profissão, incondicionalmente.

Qual a expectativa ao substituir e prosseguir com o trabalho de nomes como o de Walter Pinheiro e outros presidentes que passaram pela ABI? Existem aprendizados que servirão para os novos rumos da ABI?

Falei muito sobre os meus antecessores no dia da posse. É uma honra e um desafio muito grande, além de tudo, porque a chegada de alguém com o meu perfil ao comando de uma entidade nonagenária e vista como muito conservadora, desperta, naturalmente, expectativas e interrogações. Cada um deu o melhor de si, e eu procurarei fazer o mesmo. De cada antecessor, especialmente Jorge Calmon, Samuel Celestino e Walter Pinheiro, com os quais convivi, colhi aprendizados importantes. Mas somos diferentes e este momento em que eu assumo a presidência da ABI tem peculiaridades, até porque a velocidade destes tempos nos impõe a necessidade de ritmos diferentes, para além de estilos pessoais. Mas é uma grande responsabilidade porque a Associação Bahiana de Imprensa, infelizmente, é um ponto fora da curva na trajetória da maioria das associações estaduais. Recebo o bastão com a missão de pelo menos manter a nossa ABI nessa condição de destaque. E sou muito grato a Walter Pinheiro e a todos que me antecederam pelo legado e pelas condições objetivas de ir mais longe e, quando chegar a hora, passar o bastão a quem me suceder com uma entidade ainda mais forte, representativa e administrativamente sólida.


fonte: A Tarde


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