Da Redação
Prof. Taciano Medrado
Olá caríssimo(a)s leitore(a)s,
O ASSAÍ, a bandeira do atacarejo do Grupo Pão de Açúcar, viu sua
venda crescer em meio à pandemia da covid-19, com os consumidores lotando as lojas para fazer estoques
logo que foi decretado o isolamento social. Enquanto isso, grande parte do
varejo de produtos não essenciais teve o faturamento reduzido a zero do dia
para a noite.
Belmiro Gomes, presidente executivo do Assaí Atacadista, disse ao Estado que a
pandemia respondeu pelo crescimento de dois pontos porcentuais das vendas do
primeiro trimestre, que fecharam com um avanço de 24% em relação ao ano
anterior. Para este o ano inteiro, ele acredita que o faturamento passe de R$
35 bilhões, ante R$ 30,4 bilhões em 2019.
Enquanto
empresas demitiram, reduziram salários por causa da pandemia, o Assaí contratou
cerca de 3 mil temporários para cobrir os que foram afastados e dar conta do
maior volume de vendas. Agora decidiu cortar preços de embalagens e
matérias-primas para pequenos restaurantes, pizzarias, dogueiros, conhecidos
como transformadores, que estão trabalhando a portas fechadas por meio de
entregas e tiveram uma brusca queda no faturamento.
Apesar do aumento nas vendas, Gomes, não acha que o atacarejo,
supermercado que mistura atacado com varejo, esteja totalmente blindado à
crise. “Como a nossa proposta é preço baixo, o atacarejo é resistente e mais
fácil de se ajustar em cenários de austeridade”. A seguir, os principais
trechos da entrevista.
Qual foi o
impacto da pandemia nas vendas do Assaí?
Já vínhamos tendo crescimento forte. No ano passado, abrimos 22
lojas, que foi um recorde, e tivemos mais de R$ 30 bilhões de vendas brutas.
Essas novas lojas já davam uma indicação de que no primeiro trimestre o
crescimento seria da ordem de 25%. Em janeiro e fevereiro, o crescimento
acumulado foi de 22%. Em março, em uma semana registramos um fluxo muito grande
de consumidores nas lojas, fazendo compras de abastecimento. Por conta da
pandemia, tivemos um efeito de mais dois pontos porcentuais no crescimento.
Então, fechamos o primeiro trimestre próximos de 24% de crescimento. Isso
significou aproximadamente a conquista de 8,5 milhões de novos clientes por mês
em relação ao ano anterior.
Qual foi
impacto da paralisação das atividades dos clientes do food service que compram
no atacarejo, como pasteleiros, donos de pequenos restaurantes?
Atendemos de 15 milhões a 16 milhões de clientes por mês. A maior
parte é pessoa física, mas também tem muito cliente pessoa jurídica, um setor
que foi muito afetado pelo isolamento. A venda para o food service nesse
período de pandemia caiu mais de 70%.
Quanto o
consumidor pessoa física representa desses 16 milhões de clientes
Em número de operações, ele representa 80%. Mas em termos de
venda, porque o valor médio é menor, ele representava em torno de 50% a 55%.
Mas na primeira semana da segunda quinzena de março houve um movimento
fortíssimo do consumidor e a maioria das lojas duplicou a venda. Com isso, o
consumidor pessoa física chegou a representar a 70% da venda. Agora, em abril,
houve uma normalização, porque a população já está abastecida.
Como estão
as vendas para os transformadores de food service, como pequenos restaurantes,
pizzarias, por exemplo?
Os transformadores para nós são muito importantes. Muitos
estabelecimentos estão fechados e enquanto estiverem fechados não vão retomar as
compras no atacarejo. Muitos passaram a operar ou já tinham delivery. Uma das
coisas que fizemos como ação foi reduzir o preço em mais de 20% em todas as
embalagens para o food service. Esse desconto está abaixo do custo de
compra desses itens. É a caixa de pizza, o sachê, o guardanapo, embalagens
plásticas, caixa para o motoboy. Estamos fazendo uma ação para que a pequena e
a microempresa tenham um pouco mais de fôlego. Além da redução dos preços das
embalagens, estamos também operando com preços reduzidos, em torno de 10%, de
insumos específicos usados pelo food service, como, por exemplo, embalagens de
margarina de 20 quilos. A intenção é apoiá-los no período em que os
estabelecimentos estiverem fechados.
Ao todo,
quantos itens terão desconto?
Entre embalagens e insumos, de 200 a 250 itens, depende do Estado
do Brasil. Estamos presentes em 20 Estados, mas os hábitos são diferentes. Essa
ação vai durar enquanto houver restrição de abertura desses estabelecimentos.
Os
descontos foram negociados com fornecedores?
Não. É uma ação totalmente nossa. A nossa margem nos itens de
embalagens é 18%. E vamos dar, no mínimo, 20% de desconto. Estamos operando no
vermelho.
Qual o
motivo da ajuda?
Somos o maior abastecedor do food service. É uma forma de criar
mais vínculos, de fidelizar o público.
Há outras
medidas que estão sendo tomadas para manter esse público fiel
Por meio da Academia Assaí, estamos orientando como renegociar
aluguel, refazer fluxo de caixa e outras iniciativas do ponto de vista
econômico e de gestão. Nas Regiões Norte e Nordeste, estamos parcelando as
vendas para esses empreendedores no nosso cartão e no embandeirado. Antes da
pandemia não existia a possibilidade de compra parcelada.
Ao todo,
quanto será investido em projetos de apoio ao microempreendedor
Mais de R$ 4 milhões
A pandemia
vai mudar os planos de expansão da empresa para este ano
A previsão para este ano é abrir 20 lojas, dessas 17 vão ter a
abertura adiada. Neste momento, tenho 16 lojas em obras. Assim como toda
atividade, a construção civil também está paralisada. Então, algumas
inaugurações que deveriam ocorrer no fim do primeiro semestre e início do
segundo serão postergadas. Haverá um atraso de dois a três meses do calendário
oficial. Isso varia de um Estado para outro. Mas a meta do ano está mantida.
Este mês tinham duas inaugurações previstas, mas não vão ocorrer.
Quanto está
sendo investido nas 20 lojas
Mais de R$ 1 bilhão. O nosso plano de expansão é colocar a
bandeira Assaí em regiões onde não estávamos presentes. Por exemplo, neste
momento, estamos terminando a obra para inaugurar a primeira loja em São Luís
(MA). Será a nossa entrada no Estado. Estamos preparando a loja de Boa Vista,
será a nossa entrada em Roraima. Independentemente do cenário econômico,
focamos em novas praças, novos mercados. Por isso, neste momento, não há
intenção de rever o plano de expansão, muito pelo contrário. No cenário atual,
esse modelo de negócio sai extremamente fortalecido. O atacarejo é resistente e
mais fácil de se ajustar em cenários de austeridade. Quando há crise, há uma
busca maior por preço mais baixo.
Então, o
atacarejo é um segmento que está blindado da recessão?
Não chega a ser totalmente blindado, mas é o último mercado a ser
afetado. Como a nossa proposta é preço baixo, num cenário de menor poder de
compra, somos uma opção viável para muitas pessoas. Mas antes da crise já
era um modelo que vinha em crescimento. Em 2008, o Assaí faturava R$ 1 bilhão.
No ano passado, fechamos o ano com R$ 30,4 bilhões. Este ano vamos ultrapassar
R$ 35 bilhões.
Como está a
questão do emprego no Assaí neste período de pandemia?
Afastamos as pessoas do grupo de risco e para manter a operação de
loja contratamos cerca de 3 mil temporários por 70 dias. Depois deve haver uma
renovação. Não houve demissões, não reduzimos nem salário nem jornada. Tivemos
uma série de iniciativas para manter a segurança dos trabalhadores. Fomos uma
das primeiras empresas do Brasil a disponibilizar máscaras para os
funcionários.
Como o sr.
está vendo o cenário econômico com a pandemia?
A primeira preocupação é com a vida. Existe uma preocupação grande
para os próximos meses em relação à economia e com o desenrolar da pandemia.
Temos 45 mil colaboradores diretos. Com as novas lojas vamos chegar em 50 mil.
Estamos entre as dez maiores empresa privadas do Brasil.
Como está a
negociação com os fornecedores depois da pandemia
A preocupação que temos com a indústria é porque não vemos espaço
para aumento de preço. Há insumos cotados em dólar que podem exercer pressão de
preços nos próximos dias. O setor de higiene e limpeza, por exemplo, usa
muita matéria-prima cotada em dólar. Por outro lado, muitos
insumos são derivados de petróleo, cujo preço caiu e poderia trazer algum
alívio. A carne, por exemplo, é outro foco de preocupação. Com a alta do dólar,
um volume maior poderá ser exportado, o que pode levar a uma alta de preço no
mercado interno.
Fonte: O Estadão
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