CRÔNICA: O CARNAVAL DA HIPOCRISIA JUAZEIRENSE



Por : João Gilberto Guimarães

Todo mundo sabe que em Roma os imperadores usavam do coliseu para promover espetáculos com o único intuito de entreter o povo e assim desviar o foco das coisas públicas que realmente importam. Pois bem, por mais incrível que possa parecer, 2.000 anos depois em Juazeiro da Bahia ainda se usa a mesma receita. 

O governo municipal que não tem competência pra promover a arte e a cultura da cidade, se utiliza da prática romana do panem et circenses(pão e circo) pra tapear o povo, promovendo uma festa descaracterizada, elitista e cara, que não tem mais nenhuma relação com a tradicional festa de momo juazeirense. O que se observa ao longo dos últimos anos é justamente o contrário da proposta real do que é o carnaval, uma festa desregrada, de liberdade e de alegria, de fato, qualquer pessoa com o mínimo de discernimento já notou que a festa não é mais feita para o povo, é feita na verdade para encher os bolsos de empresários que se tornaram os “donos da festa” e que se acham no direito de ditar, onde, quando e qual cerveja o folião vai tomar. 

As pessoas que ainda se prestam a comparecer a folia, são tratados tal e qual uma manada de bovinos, que são literalmente tangidos para dentro dos currais promovidos pela prefeitura municipal, não se vê mais a promoção da alegria, não se vê mais a sociedade 28 de setembro aberta, nem o Carnaval da Apolo, não se vê mais ninguém fantasiado, coroas coloridas onde estão? Procurem! Eu vos garanto leitores que não encontrarão uma marchinha de carnaval. 

A única coisa que se vê mesmo é a ânsia desesperada de gente que já tem dinheiro atrás de mais dinheiro, em detrimento do mais importante que é o povo de Juazeiro. Um povo que diga-se de passagem se tornou refém de uma ditadura do mau gosto, a cidade que deu ao mundo o insofismável João Gilberto que pariu o carismático Luiz Galvão traz para as ruas da cidade o que há de mais intolerável, que é a promoção da violência, da baixaria, de músicas que sequer poderiam ser consideradas músicas por uma sociedade sensata, pacata e ordeira como a nossa. 

É lamentável que em nossa cidade, as ditas autoridades que deveriam promover o bem estar e a satisfação do povo, se ocupem de inaugurar bares e empreendimentos  particulares, pasmem, como se fossem obras públicas, enquanto isso o Centro de Cultura João Gilberto encontra-se fechado, abandonado e triste, mas que diferença isso faz para estas pessoas que desmandam na cidade? Eles não frequentam o teatro, eles não leem poesia, alguns são inclusive, incapazes de articular uma frase que já não tenha sido elaborada por alguém mais inescrupuloso, em verdade, a única linguagem que esta gente compreende é a linguagem do dinheiro. 

Como já é sabido por toda comunidade juazeirense, os atuais mandatários da cidade não tem humildade nenhuma, não reconhecem erros e quando criticados acusam quem critica de oposição. Quando acuados, acusam os juazeirenses que pensam, de torcer contra a cidade isso quando não se lançam nas redes sociais numa cruzada ad hominem (argumento contra a pessoa) para atacar de forma medíocre um ou outro que ouse dar palpite na lambuja que promovem. 

Eu sou um juazeirense que torço muito pela minha cidade e que, sempre que posso através da minha arte, elevo o nome da minha terra, afinal minha família vive aqui a quase 200 anos, acompanho com bastante interesse as coisas que acontecem e não tenho a menor pretensão de me envolver na anti-politica feia, feita por homens pequenos que aqui ocorre, eu só queria mesmo, através desse texto pedir um pouco mais de respeito conosco, cidadãos juazeirenses, nós pagamos impostos para que a cidade se desenvolva e não para promover o mal. 

No ano passado alguém ganhou muito dinheiro com o carnaval, mas durante a passagem do “Príncipe do Gueto” um jovem teve sua vida ceifada, como podem as pessoas que promovem esta festa ignorar a lei anti-baixaria e trazer novamente esse “artista” pra cá? Enfim, deixo para a reflexão geral um trecho altamente poético deste cidadão de uma genialidade sem igual, que tem todo o direito de fazer sua arte, embora eu prefira que o faça bem longe. 

O Kannário é barril! 
O Kannário é barril! 
O Kannário é barril! 
O Kannário é barril! 
O Kannário é barril! 

Por quê? 

A porra pega!
A porra pega!
A porra pega!
A porra pega! 
A porra pega! 
A porra pega! 
A porra pega! 
A porra pega! 

João Gilberto Guimarães é juazeirense, professor, poeta, compositor, editor, Fundador da Editora CLAE e autor de alguns livros de poesia.

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