Foto: Internet/Google
De acordo com recente decisão da Organização
Mundial da Saúde, a síndrome de Burnout passa a ser classificada como um "fenômeno
ocupacional", com código de classificação internacional de
doenças.
Este cenário se manifesta em três dimensões: sentimentos
de exaustão; distanciamento mental, sentimentos de negativismo
relacionados ao trabalho; e eficácia reduzida.
Segundo dados da Forbes, entre 1973 e 2015, o
americano médio teve aumento da carga de trabalho equivalente a mais de três
semanas extras por ano, levando a um esgotamento entre funcionários de todos
níveis em empresas no mundo todo. Este cenário gera aumento do investimento das
empresas em programas de bem-estar e de liderança, pois os líderes são os
maiores responsáveis por perpetuar más práticas ou gerar mudanças positivas.
Está comprovado que boas práticas transmitidas
pelos líderes podem contribuir para melhor engajamento, maior satisfação e, por
consequência, maior chance de permanência. As organizações mais avançadas na
valorização do colaborador estão cada vez mais buscando equilíbrio entre
trabalho e momentos de aprendizagem, levando a maior qualidade do trabalho em
menor tempo.
A importância do
engajamento também foi citada em consulta, feita pela EXAME, com especialistas
em liderança. A pesquisa apontou entre algumas das tendências mais relevantes a
necessidade de menos controle. Outra característica muito valorizada é saber
dar e receber feedback.
Independente de
atuar na economia privada ou no setor público existe demanda crescente por
formar líderes com este perfil. Mas, afinal de contas, como definir liderança?
Segundo proposta da Consultoria McKinsey, uma definição incompleta produzirá
programas de liderança fragmentados. Embora as organizações recebam muitos
conselhos, elas não estão achando formas de superar o atual cenário.
O conceito é
definir liderança como algo mensurável, numa escala, totalmente alinhada com
valores e resultados da organização. Tanto a atitude mental quanto as
habilidades devem ser desenvolvidas nos líderes para que estes apoiem suas
organizações para mudanças de comportamento desejáveis.
De acordo com
relatório do Fórum Econômico Mundial, de 2018, a fim de gerar resultados
positivos e um melhor futuro do trabalho, são necessários liderança ousada e
espírito empreendedor tanto de empresas quanto de governos, com uma mentalidade
voltada ao aprendizado contínuo dos funcionários.
O entendimento das
novas tecnologias é tão relevante quanto as "habilidades humanas"
como criatividade, iniciativa, pensamento crítico, negociação, resiliência,
flexibilidade e resolução de problemas complexos.
Para quem avalia
que investimentos deste tipo geram mais custos com retornos duvidosos, vale
considerar estudo realizado em parceria entre a consultoria Green Peak e a Universidade Cornell que analisou
experiência, tipo de gestão e resultados de 72 executivos de empresas públicas
e privadas. O estudo concluiu que os líderes que construíram boas relações de
trabalho em suas equipes geraram melhores retornos financeiros.
Uma pergunta
natural que surge é: por onde começar um programa de
liderança em uma organização?
Aqui, a proposta é
destacar alguns elementos do Programa de Desenvolvimento de
Liderança da NASA, que podem ser usados como ponto de partida. Sendo
esta uma agência federal com forte interação com setor privado e complexas
missões, aspectos deste programa podem ser úteis a diferentes perfis.
Quanto aos valores, o programa declara que os candidatos devem
demonstrar altos padrões de honestidade, integridade,
confiança, abertura e respeito. Apesar de ser estratégica, a
participação no programa não é "garantia" de promoção para posição
específica. Isto depende da maior eficácia da liderança do participante.
Sobre a seleção, são apresentadas habilidades como: estar
aberto a feedback e novas ideias; assumir riscos; ter
credibilidade inquestionável; E possuir competência técnica respeitada. A
avaliação engloba entrevista e análise de documentos. Os candidatos são
avaliados com base em fatores como: Visão, Preparação para o Desenvolvimento,
Fatores Competitivos, Estratégia de Retorno, Aspectos Discricionários.
É comum o receio do
investimento em líderes devido à dificuldade de retenção do indivíduo. Neste
aspecto, é previsto que o candidato esteja comprometido com a agência,
assinando contrato de serviço contínuo de três anos com a NASA antes de ser
aceito pelo programa.
O programa atua
como estímulo ao planejamento individual, pois cada candidato deve preparar
seu Plano de Desenvolvimento Individual, como uma declaração de conhecimentos e
habilidades específicos relacionados ao trabalho que o indivíduo busca melhorar
ou fortalecer, juntamente com as atividades planejadas para adquirir o
conhecimento e a experiência desejados. O programa tem duração de um ano, com
seis encontros que ocorrem na forma de workshop envolvendo pontos como:
aprendizado, coaching, feedback e filmagens
periódicas.
Independente do
modelo a ser adotado pela organização é fundamental entender que o mundo do
trabalho se transforma numa velocidade extraordinária, é imprescindível que
líderes se preparem para impulsionar esta transformação, criando ambientes em
que o equilíbrio e bem-estar dos colaboradores sejam igualmente valorizados
como metas, prazos e resultados. Grande valor deve ser atribuído à diversidade
de perspectivas e contribuições que os indivíduos trazem para discussão.
Antigas formas de exercer poder e autoridade devem dar lugar a novas formas de
liderança. Um conceito de liderança precisará ser reformulado para incluir a
capacidade de promover a tomada de decisão e ação coletivas, encontrando sua
mais alta expressão no serviço como um todo.
Jonny Carlos da
Silva
Professor titular
de Engenharia Mecânica-UFSC, pós-doutorado junto à NASA,
coach e palestrante. Autor do livro: Trabalho de Começo de Carreira.
Postar um comentário