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A carga horária dos estudantes da rede estadual será ampliada em 200 horas, passando de 800 h/ano para 1 mil h/ano. A mudança, que será implantada a partir de 2020, é uma das estratégias da Secretaria Estadual da Educação (SEC) para tentar melhorar o desempenho do Ensino Médio e vai representar, diariamente, 1h a mais dos jovens na escola.
O subsecretário da Educação, Danilo Souza, diz que os detalhes dessa mudança estão em discussão e que, por isso, ainda não está definido se essa hora a mais será no começo ou no final das aulas. A inspiração para a mudança surgiu analisando outros países.
O prazo para a conclusão do estudo é novembro
deste ano e não está descartada a possibilidade de contratar mais professores.
Os especialistas, porém, veem a medida com desconfiança e defendem
que é preciso avaliar as alterações com cuidado antes de tomar uma decisão.
Para a doutora em Educação e professora da
Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Rosemary Oliveira, mais do que a
ampliação da carga horária, é preciso que haja uma mudança na formulação das
aulas.
“O problema da educação no Brasil é estrutural. A gente pode falar do Ensino Médio, mas ele vem desde como a gente pensa o que é a educação e a importância dela. Precisamos de investimento de verdade, capacitar os professores e repensar como essas disciplinas estão sendo trabalhadas nas escolas”, pondera.
Ela afirma que as pesquisas mostram também
que falta criticidade nos estudantes brasileiros, mas acredita que esse déficit
é provocado pelo excesso de conteúdo que precisa ser trabalhado em
sala de aula. Ela defende que os estudantes devem passar mais tempo em sala,
mas fez algumas considerações:
“O certo seria que os alunos ficassem o dia
inteiro na escola, então, essa ampliação poderia ajudar nesse sentido, mas como
é que vai ser distribuído esse tempo? Os professores que estarão essa 1h a mais
vão usar dos mesmos métodos de ensino? O que eu tenho visto dessa
ampliação é formação para empreendedorismo”, acrescenta.
O Anuário da Educação mostrou também que a
Bahia é o 5º estado que menos investe por estudante, são cerca de R$ 3 mil por
aluno. A professora de pedagogia da Rede FTC Camila Bianca Chagas, que também
leciona em escolas públicas, atribui o resultado pífio do ensino médio
à falta de estrutura das escolas. E enfatiza que a
deficiência no aprendizado aparece no ensino superior e reflete no mercado
de trabalho.
“Em muitas escolas falta material de trabalho e as
condições são precárias. Isso desestimula os estudantes e reflete no desempenho
e, mais tarde, nos profissionais. Não adianta manter 40 alunos em uma sala
sem ventilador por mais uma hora, porque o aproveitamento
será comprometido. A questão é o que vai ser oferecido ao estudante nessa
1h a mais, além de conteúdo programado”, defende.
A SEC informou que o aporte por aluno é menor na Bahia na comparação com outros estados por conta da quantidade de estudantes, o que diminui o investimento per capita (por pessoa). Segundo o Todos Pela Educação, o número de professores não licenciados em exatas e que lecionam matemática ainda é significativo, e isso reflete na aprendizagem dos estudantes. Procurada, a assessoria da SEC não informou o número exato de estudantes, nem de professores licenciados em matemática nas escolas estaduais.
Problemas
Apesar da quantidade de conteúdo das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática ser extensa, as queixas dos estudantes geralmente são as mesmas, segundo os professores. Na área da Matemática: análises combinatórias, trigonometria e geometria plana fazem os futuros profissionais queimarem os neurônios. Sobra reclamação também para algoritmos e funções.
Já em Português, é a gramática que tira os estudantes do sério, principalmente, a área de sintaxe e análise linguística. Produção textual também é um problema para as turmas do ensino médio.
Manoela Oliveira, 16, é estudante do 1º ano, no Instituto Federal da Bahia (Ifba) e conta que Matemática é o principal desafio. Ela gostou de saber da proposta de ampliação do horário dos estudos em uma hora, anunciada pela Secretaria Estadual da Educação (SEC).
“Em geral, acho que
essas horas a mais serão uma ótima iniciativa porque a maioria dos estudantes
tem dificuldade nessas duas matérias e iria ajudá-los a aumentar o nível de
desenvolvimento das notas e também ajudar na preparação do Enem”, opina.
Já
o amigo de Manoela, Bruno Henrique, 17, está no 2º ano, também no Ifba, e é
outro que defende a dedicação de mais tempo aos estudos. “Creio que seja bom,
principalmente na área de Português, que no ensino médio a gente não tem tanto
apoio". Essa uma hora a mais poderia influenciar numa melhora significativa. E
já pensando na redação do Enem, esse reforço é válido para ajudar os alunos a
não terem dificuldade e não zerarem a prova. Até então eu não tenho tanta
dificuldade nessas matérias”, afirmou.
Fonte :SEC/Bahia
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