A imprensa israelense repercutiu a fala do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em que ele compara as ações do Estado de Israel com a o governo nazista da Alemanha na Segunda Guerra.
Em
visita à Etiópia, Lula disse: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em
nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar
os judeus."
Nesta
segunda-feira, o líder brasileiro foi declarado persona non grata pelo governo
de Benjamin Netanyahu.
Persona
non grata é uma expressão em latim cujo significado literal é algo como
"pessoa não agradável" ou "não bem-vinda". Na diplomacia, a
expressão se aplica a um representante estrangeiro que não é mais bem-vindo em
missões oficiais em determinado país.
Para
o correspondente de assuntos diplomáticos do jornal online israelense The Times
of Israel, Lazar Berman, a fala de Lula é "ignorante, na melhor das
hipóteses".
"É
algo que deve ser condenado, que foi condenado e sempre precisa ser
condenado", disse Berman, em podcast do jornal.
O
jornalista ressaltou que Lula deu suas declarações durante um encontro da União
Africana, grupo que reúne os principais países do contiente. Segundo Berman,
existe uma divisão dentro da entidade — entre países mais favoráveis e países
críticos de Israel.
Ele
diz que nos últimos anos, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, conseguiu
aumentar as parcerias de Israel com a África, sobretudo nos setores de
tecnologia de agricultura e militar.
"Mesmo
assim, tenho certeza que as falas do presidente brasileiro serão muito
bem-recebidas por diversos países da União Africana", disse Berman, em
referência aos países que ele vê como críticos de Israel. Este seria o caso da
África do Sul — que protestou em um tribunal internacional contra a ofensiva militar
de Israel em Gaza — e de países de maioria muçulmana, segundo ele.
No
artigo que escreveu para o jornal, Berman afirma que Israel ficou
"irado" com as falas de Lula, e fez distinções entre a ação de Israel
contra o Hamas e as atrocidades cometidas pelos nazistas na Segunda Guerra.
"Israel
está combatendo um grupo terrorista fortemente armado no enclave em resposta ao
ataque mais letal à sua população na sua história. Israel diz que as vítimas
civis são o resultado de combatentes que se escondem por trás de
inocentes", afirma o artigo do The Times of Israel.
"Durante
o Holocausto, os nazistas, liderados por Adolf Hitler, caçaram sistematicamente
a população judaica da Europa com base em uma ideologia racista, privaram-na de
todos os direitos, cercaram-na em guetos e campos e exterminaram-na,
aniquilando cerca de dois terços da população de judeus do continente."
O
jornal israelense Israel Hayom disse que as declarações de Lula provocaram a
ira das autoridades de Israel.
"A
situação prejudicou ainda mais as relações entre os países, que se deterioraram
desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao cargo no ano
passado. Lula se diz um líder do 'Sul Global', um grupo vagamente definido de
países em desenvolvimento", escreve o Israel Hayom.
"Os
comentários [de Lula] atingem um ponto sensível em Israel, um país estabelecido
como um refúgio para os judeus após o Holocausto. Israel rejeita qualquer
comparação entre a sua conduta na guerra em Gaza e o Holocausto."
O
jornal Jerusalem Post destacou o encontro do ministro das Relações
Internacionais de Israel, Israel Katz, e o embaixador brasileiro Frederico
Duque Estrada Meyer, que foi convocado por conta das falas de Lula.
O
encontro foi realizado no Museu do Holocausto, o que segundo o jornal é um
recado aos brasileiros.
"O
embaixador brasileiro desfilou diante das câmeras da imprensa até a sala do
Livro de Nomes, onde estavam inscritos os nomes dos judeus assassinados no
Holocausto. O embaixador viu quão extenso e profundo era o documento que
ocupava toda a sala", diz o artigo do Jerusalem Post.
"Katz
disse que era importante trazer o embaixador à sala para 'mostrar o Livro dos
Nomes e demonstrar a diferença' entre a guerra de 2023 e o genocídio nazista em
que os seus pais sobreviveram."
O
que Lula disse?
Durante
sua viagem, Lula questionou a decisão de alguns países de suspender verbas à
agência da ONU que dá assistência aos palestinos, a UNRWA.
A
suspensão havia acontecido porque Israel acusou funcionários da agência de
envolvimento com o Hamas.
Lula
afirmou que a ajuda humanitária aos palestinos não pode ser suspensa e disse
que, se confirmado que houve erros na UNRWA, deve haver responsabilização.
“Quando
eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar a contribuição para a
questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da
consciência política dessa gente?”, disse o presidente.
“E
qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na
Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio?”, afirmou.
"O
que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em
nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar
os judeus."
“Não
é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército
altamente preparado e mulheres e crianças. Se teve algum erro nessa instituição
que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou. Mas não suspenda a ajuda
humanitária para o povo que tá há quantas décadas tentando construir o seu
Estado”, disse o presidente.
Lula
também reiterou que condena o Hamas e os ataques realizados por eles.
"O
Brasil condena o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que Israel
está fazendo na Faixa de Gaza", disse.
Fonte: BBC News Brasil
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