Doenças
virais respiratórias em crianças tiveram alta no país nos últimos dois meses. O
reaparecimento das populares viroses coincide com o período em que houve
aumento de alunos frequentando as aulas presenciais. As informações são da Folhapress.
Um
boletim da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgado na última quinta-feira
(28) alertou para o reaparecimento de outros vírus, que têm causado SRAG
(Síndrome Respiratória Aguda Grave) em crianças de 0 a 9 anos. O registro
desses outros vírus, que havia caído no ano passado, agora já ultrapassa a
Covid em número de casos.
Especialistas
avaliam que a volta da circulação dessas doenças, que comumente afetam crianças,
era esperada com o retorno às atividades presenciais. Eles ressaltam que a
população dessa faixa etária ficou protegida no ano passado, com o fechamento
das escolas, e pode agora ter "memória imunológica" menor.
Apesar
de o aumento ser esperado, o reaparecimento desses vírus mostra a importância
de manter e reforçar os protocolos sanitários de segurança, como o uso de
máscaras e ambientes bem ventilados.
Segundo
o documento da Fiocruz, as crianças de até nove anos estão sendo mais
internadas por casos de VSR (Vírus Sincicial Respiratório) e de renovírus, que
haviam praticamente sumido dos painéis de acompanhamento no ano passado com as
regras de isolamento.
Também
houve aumento de casos positivos para bocavírus, parainfluenza 3 e
parainfluenza 4 nessa faixa etária.
Esses
vírus voltaram a crescer no fim do ano passado e início de 2021 exatamente o
período em que alguns estados liberaram a reabertura das escolas. O aumento se
intensificou a partir de agosto, com a maior adesão da volta às aulas presenciais
no país.
São
vírus que anualmente observamos como causa importante de internação em
crianças, mas que praticamente sumiram no ano passado e agora voltam a aparecer
com a maior exposição desse grupo com o retorno às aulas presenciais", diz
Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe e pesquisador da Fiocruz.
Segundo
o boletim do InfoGripe, a incidência de SRAG está estável entre crianças, mas
com média ainda considerada elevada, de 1.000 a 1.200 casos semanais --índice
semelhante ao de junho de 2020. Os dados do adoecimento entre os que têm de 0 a
9 anos vão na contramão dos das faixas etárias mais velhas, em que a ocorrência
da síndrome é agora a menor desde o início da pandemia.
"Esse
movimento contrário entre as crianças não é de todo surpreendente, já que elas
estão mais suscetíveis a complicações por esses outros vírus e não pela
Covid", diz Gomes.
A
análise dos casos entre crianças também indica que o reaparecimento de outros
vírus respiratórios é mais presente na região centro-sul do país, exatamente
onde mais alunos puderam retornar às aulas presenciais.
Na
capital paulista, por exemplo, em que a maioria das escolas particulares está
funcionando com todos os alunos desde agosto, houve uma explosão de casos de
outras doenças virais, como a síndrome mão-pé-boca, causada pelo vírus
Coxsackie A16.
A
Secretaria Municipal de Saúde registrou neste ano 173 surtos da síndrome na
cidade, sendo que os registros cresceram ao longo dos meses. Foram dois em
junho, oito em julho, 48 em agosto, 94 em setembro e 21 em outubro.
No
ano passado, com as escolas fechadas, a secretaria não recebeu nenhuma
notificação da doença na cidade. O número de surtos deste ano é o maior desde
2015. Até então, o ano com maior número de notificações tinha sido 2018, com
dez registros.
O
registro dos surtos não é compulsório, por isso, a secretaria e os
especialistas avaliam que o maior número de notificações pode ter ocorrido por
uma vigilância maior da sociedade em relação a doenças respiratórias com a
preocupação causada pela Covid.
"Nós,
como sociedade, temos hoje uma sensibilidade muito maior do sistema de
vigilância e investigação das doenças. Estamos muito mais atentos aos sintomas
e doenças por causa da pandemia e, com isso, pode ter o aumento do registro de
outros vírus", diz Renato Kfouri, pediatra e presidente do departamento de
imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Para
os especialistas, não há motivo de pânico entre os pais, apenas a manutenção de
cuidados de prevenção.
Algumas
escolas, no entanto, têm recebido reclamações quando são notificados casos de
outras doenças. É o caso do colégio Tindolelê, em São Caetano do Sul, que há
duas semanas afastou toda uma turma de 20 crianças de dois anos, após quatro
delas serem diagnosticadas com a síndrome mão-pé-boca.
O
pai de uma das crianças que adoeceu diz que a escola demorou em afastar toda a
turma. No entanto, a vigilância sanitária diz que o afastamento não é
necessário para todos, apenas para os que tiverem sintomas.
"Os
pais estão mais preocupados, mas o protocolo não é o mesmo da Covid e, sim o de
outras doenças virais, como gripes e gastroenterite. Você só afasta quem está
com sintomas", diz Kfouri.
Os
especialistas destacam que a ocorrência de infecções virais é inevitável, mas
os casos podem servir como alerta para as escolas da necessidade de melhorar
protocolos sanitários.
"Sabemos
que o protocolo em muitas escolas não é o adequado, muitas focam procedimentos
que já sabemos serem ineficazes, como a medição de temperatura na entrada, e
não se atentam ao que é comprovadamente importante: máscara e ventilação dos
ambientes. Seria importante olhar para essas questões", diz Gomes.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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