Pesquisadora do Datafolha esconde o rosto quando está sendo filmada - foto redes socias
Da Redação
Os eleitores brasileiros perderam a paciência com os institutos de pesquisas em especial pelos Pesquisadores do Datafolha que têm sido o principal alvo de hostilidade crescente enquanto realizam seu trabalho.
De acordo com o jornal Folha de São Paulo Apenas nesta terça-feira (13), o instituto de pesquisas contabilizou
dez intercorrências em municípios das diferentes regiões do país --dentro de um
universo de 470 pesquisadores.
ainda de acordo com o Folha, houve
casos nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Maranhão, Goiás, Pará,
Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Em
Goiânia, um entrevistador chegou a ser empurrado por um homem que se
identificou como bolsonarista e que disse não querer o profissional do
Datafolha nas redondezas.
Em
um município do Rio Grande do Sul, um pesquisador foi levado para averiguação
por um policial que se identificou como eleitor de Jair Bolsonaro (PL). Antes
de chegarem à delegacia, ele parou o carro e fez perguntas ao pesquisador que,
na sequência, foi liberado e continuou seu trabalho em outro local.
De
acordo com Luciana Chong, diretora geral do Datafolha, relatos de pessoas que
passam gritando, acusando o instituto de ser comunista ou tentando filmar os
entrevistadores como forma de intimidá-los têm sido comuns. Ela nota, contudo,
que há uma piora no cenário --especialmente depois do feriado de 7 de Setembro,
quando houve atos pelo país a favor de Bolsonaro.
"O
pesquisador está fazendo a entrevista e chega alguém querendo ouvir, dar sua
opinião, querendo responder", diz Chong. "São pessoas que querem
mesmo interferir."
Em
agosto, em Belo Horizonte, quatro homens perseguiram uma entrevistadora,
chamando o Datafolha de comunista e esquerdista. Ela saiu correndo e acabou
caindo no chão e machucando o joelho. O grupo então teria se assustado e parou
de segui-la. Eles estariam tentando pegar à força o tablet no qual ela
registrava as respostas.
Em
seu discurso no 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro fez um
novo ataque ao instituto. O mandatário aparece em segundo lugar, atrás do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas principais pesquisas.
"Nunca
vi um mar tão grande aqui com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a
mentirosa Datafolha. Aqui é o nosso datapovo. Aqui, a verdade, a vontade de um
povo honesto, livre e trabalhador", disse na ocasião.
Apoiadores
do presidente costumam contrapor fotos de manifestações de rua às pesquisas de
intenção de voto, o que chamam de "datapovo".
Já
em 2018, gravações feitas de ao menos dois pesquisadores viralizaram nas redes
sociais e colocaram ambos em alto grau de exposição.
"O
que preocupa é a escalada, perceber que está piorando", afirmou Renata
Nunes César, que é diretora de pesquisa do Datafolha.
O
Datafolha é um instituto independente de pesquisa de opinião que pertence ao
Grupo Folha e atua com pesquisa eleitoral e levantamentos estatísticos para o
mercado. O instituto não faz pesquisas eleitorais para governos ou políticos.
Nesta
quarta (14), viralizou um vídeo de uma pesquisadora gravada por bolsonaristas
no dia anterior na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. "Se você é
bolsonarista, ela não aceita, só aceita do Lula", diz o autor do gravação,
que usa outras expressões como: "Datafolha lixo", "pilantragem
do Datafolha", "canalha", "sujo", "mentira",
"falsa", "falcatrua".
Os
pesquisadores do instituto recebem um treinamento padronizado, que determina
que pessoas que se oferecem para serem entrevistadas devem ser obrigatoriamente
evitadas, para que a amostra seja aleatória.
"Como
parte do material de todos os pesquisadores são checados remotamente, a
transgressão dessa norma leva ao cancelamento automático de todos os
questionários desse pesquisador", afirmou o instituto em nota após a
reverberação do vídeo. "A pesquisadora não só atendeu a todos os
parâmetros que uma pesquisa séria deve seguir, mas também protegeu o objeto de
seu trabalho."
Situação
semelhante ocorreu em Alagoas, onde três homens abordaram uma pesquisadora na
terça -feira dizendo que eram apoiadores de Bolsonaro e que deveriam ser
entrevistados.
No
mesmo dia, no Maranhão, uma mulher, depois de insistir sem sucesso para ser
entrevistada, buscou um guarda municipal, sob a alegação de que a pesquisadora
estaria coletando a digital dos entrevistados. Após avaliar o tablet, ele
liberou a continuidade do trabalho.
Na
maior parte dos casos, as pessoas que buscam intimidar os pesquisadores se
declaram como bolsonaristas ou citam o nome do presidente, de acordo com a
diretoria do instituto.
Nesta
terça, porém, um episódio no interior de São Paulo envolveu uma mulher que
disse ser apoiadora de Lula. Depois de se oferecer para ser entrevistada e ter
seu pedido negado, ela passou a perseguir a pesquisadora e começou a chamar
pessoas que estavam em um bar para responder à pesquisa.
A
metodologia do Datafolha prevê pontos específicos para a realização das
entrevistas. No caso de mudança para outro ponto entre os mapeados, é preciso
uma autorização da equipe de planejamento.
O
instituto diz que, nos levantamentos nacionais ou estaduais, primeiro são
sorteados os municípios que farão parte do levantamento; depois, os bairros e
pontos onde serão aplicadas as entrevistas.
O
Datafolha também usa cotas proporcionais de sexo e idade de acordo com dados
obtidos junto ao IBGE e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Outras
instruções são as de não dar permissão para ser filmado e a de não usar o
crachá do Datafolha enquanto estiver se deslocando, apenas enquanto estiver
realizando as entrevistas.
Com informações do Folha de São Paulo
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