Foto reprodução redes sociais
Da Redação
Um homem foi baleado por um policial militar
dentro da igreja evangélica Congregação Cristã no Brasil (CCB) de Goiânia, na
última quarta-feira (31), dias após desavenças políticas ocorridas entre o
pastor e o irmão da vítima, segundo a família. As informações são Júlia Barbon do Folha de São Paulo.
O
bacharel em direito e assessor empresarial Davi Augusto de Souza, 40, foi
atingido por um projétil que atravessou suas duas pernas e passou por uma
cirurgia de seis horas para reconstruí-las. Ele está com muita dor, mas fora de
perigo, contou à Folha seu irmão Daniel Augusto, 45.
O
agressor é Vitor da Silva Lopes, 37, que estava de folga naquela noite e se
apresentou espontaneamente à delegacia, onde o crime foi registrado como
agressão por arma de fogo e lesão corporal culposa (não intencional), diz o
boletim da ocorrência.
A
reportagem ligou e mandou mensagem para o seu celular, mas não obteve resposta
até o momento. Também tentou entrar em contato com a Congregação Cristã no
Brasil desde sexta (2) e com o ancião responsável pela igreja em Goiás, sem
sucesso.
Daniel
diz que já conversou com o policial e não pretende cobrar uma punição.
"Ele está muito arrependido, desesperado, dizendo que vai ajudar no que
for preciso, que não sabe como aconteceu aquilo, que nunca passou pela cabeça
dele, ainda mais dentro da igreja", conta.
Ele
afirma que as discordâncias com o pastor da unidade, Djalma Pereira Faustino,
que é amigo do PM, começaram cerca de duas semanas antes porque o líder estava
falando de política nos cultos. Seu irmão não estava envolvido, mas acabou
sendo afetado.
Segundo
ele, Davi foi tomar água no corredor da igreja e cumprimentou sem resposta o
policial, que é primo de sua cunhada e seu colega de infância. A vítima
perguntou "o que eu te fiz?", sendo então xingada e atingida com o
copo de água na cabeça.
Ainda
de acordo com o irmão, que viu visto a cena, começou uma confusão e, enquanto
outras pessoas chegaram para segurar o policial, Davi saiu andando de costas,
atordoado. Foi quando o agente sacou a arma e deu um tiro em direção às suas
pernas.
Para
Daniel, não havia outra motivação para a agressão a não ser a política.
"Eu não culpo ele, não guardo aquela mágoa. A culpa que eu coloco é mais
nos pastores que ficam incentivando ódio dentro da igreja", afirma ele,
que frequenta a CCB desde que nasceu.
Dias
antes, ele havia denunciado o pastor a um conselho da congregação por pregação
política, exigindo uma retratação. Após o caso ser publicado por um jornal
local, a igreja enviou um líder para fazer essa retratação na última quarta-feira,
quando Davi foi baleado.
A
primeira desavença entre Daniel e o pastor ocorreu cerca de duas semanas antes.
"Ele falou no culto: 'está chegando a eleição e esse povo que vota na
bandeirinha vermelha, olha, o diabo está fazendo a festa', então eu levantei a
mão e falei: 'irmão, não vamos falar de política'. Ele me mandou calar a
boca", afirma.
Ele
diz que o pastor se referiu a ele como demônio, e a partir de então sua família
começou a ser ameaçada e parou de ser cumprimentada por parte dos fiéis, tendo
ele inclusive tomado empurrões dentro da igreja.
Daniel
conta ainda que gravou um vídeo criticando o uso da política nos cultos que
viralizou dias antes de seu irmão ser baleado. "No dia do fato ninguém
falou sobre política, mas estavam falando do vídeo e do assunto nos grupos de
WhatsApp."
Em
11 de agosto, o site da Congregação publicou uma circular em seu site que diz:
"Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de
governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a
desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é,
casamento entre homem e mulher".
Bacharel
em direito como o irmão, ele afirma que é de uma família tradicional e bastante
conhecida na igreja, por isso todos sabem que ele sempre defendeu pautas da
esquerda, foi sindicalista e coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra).
Depois
do ocorrido, Daniel fez um vídeo mostrando que o culto continuou mesmo com Davi
sendo socorrido no corredor. A família diz que não foi procurada pela igreja
nem pela polícia até o momento.
No
boletim de ocorrência, os policiais que atenderam a ocorrência relatam que
houve uma discussão e dois indivíduos "tentaram entrar em luta corporal
com o PM, que para desvencilhar-se de um deles efetuou disparo". O irmão
nega que eles tenham reagido.
Nesta
sexta, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás informou apenas que "os
fatos narrados por ambas as partes já estão sendo devidamente
investigados". Questionada neste sábado sobre por que as testemunhas ainda
não foram ouvidas, a pasta não respondeu.
Já
a Polícia Militar escreveu que "determinou a instauração de procedimento
administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato" e que
"o policial militar se apresentou de forma espontânea na delegacia para os
procedimentos cabíveis".
O
caso remete a outro ocorrido em Foz do Iguaçu (PR) em 9 de julho, quando o
policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho invadiu uma festa de
aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo
Aloizio de Arruda.
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