A Comissão
Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) dos EUA anunciou na última
quarta-feira (16) a expulsão do mercado norte-americano de duas empresas
chinesas de telecomunicações, a Pacific Networks e a ComNet. O
órgão, que adotou a decisão por quatro votos a zero, alega que ambas
representam um grande risco de espionagem em benefício de Beijing, de acordo
com a rede Bloomberg. As informações são do site de notícias
internacionais A Referência.
A decisão
não é inédita e já começa a estabelecer um padrão nos Estados Unidos.
Em janeiro, outras três empresas chinesas tiveram o mesmo destino: China
Mobile, China Telecom e China Unicom Hong Kong, sempre sob o
argumento de que são potenciais armas
de espionagem do governo da China.
Tanto Pacific
Networks quanto ComNet atuam majoritariamente na venda de
cartões telefônicos de varejo nos EUA. Ambas contam, entre seus acionistas, com
investidores dos EUA, do Reino Unido e da União
Europeia (UE), de acordo com comunicado divulgado pelas próprias
empresas em janeiro.
“A
participação de níveis significativos de propriedade pública internacional
mostra que as empresas são muito diferentes de uma empresa 100% estatal não
sujeita a requisitos externos de transparência e responsabilidade”, diz o
documento.
Beijing
também se manifestou recentemente sobre as recentes decisões da FCC contra
empresas chinesas. Em janeiro, o porta-voz do Ministério das Relações
Exteriores da China, Zhao Lijian, acusou Washington de usar a segurança
nacional como pretexto para revogar as licenças, o que classificou
como “abuso do poder do Estado para suprimir as empresas chinesas”.
Gao
Feng, porta-voz do Ministério do Comércio chinês, reforçou as críticas nesta
quinta-feira (17), em pronunciamento em Beijing. “Os EUA devem parar
imediatamente com a supressão irracional de empresas chinesas e a prática
errada de politizar questões econômicas e comerciais”, disse ele, prometendo
adotar medidas para salvaguardar os direitos e interesses das empresas
chinesas.
Por
que isso importa?
A
desconfiança global que recai sobre a China no que tange à vigilância
tecnológica tem como protagonista a Huawei, empresa de
telecomunicações suspeita de atuar a serviço de Beijing. O temor tem
aumentado desde 2021 devido à construção das redes 5G em
todo o mundo, sendo a companhia chinesa a principal fornecedora global de
infraestrutura do gênero.
A Huawei foi proibida de
fornecer infraestrutura nas redes 5G de diversos países, justamente pelo temor
de que seja usada para espionar os
governos locais a favor da China. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia,
Estados Unidos e Reino Unido já baniram a fabricante em suas futuras
redes
Informações
obtidas pelo jornal The
Washington Post sugerem que a ligação da Huawei com o
aparato de vigilância governamental chinês é maior do que se imaginava. Os
dados aparecem em uma apresentação de Power Point que estava
disponível no site da empresa e foi removida.
Repleto
de itens “confidenciais”, o arquivo obtido pelo periódico mostra como a
tecnologia da empresa pode ajudar Beijing a identificar indivíduos por voz,
monitorar pessoas de interesse, gerenciar reeducação ideológica, organizar
cronogramas de trabalho para prisioneiros e rastrear compradores através
do reconhecimento
facial.
De
um lado, a Huawei nega atuar a serviço do Estado, mas admite que não
tem como controlar a forma como sua tecnologia é usada pelos clientes. Do
outro, as autoridades enxergam uma aproximação cada vez maior entre empresas de
telecomunicações e Beijing.
O
temor ocidental tem como base a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017,
segundo a qual as empresas chinesas devem “apoiar, cooperar e colaborar no
trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar companhias de
tecnologia a trabalharem a serviço do Partido
Comunista Chinês (PCC).
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