Por: Francisco Duarte/BN
Até a desistência de Jaques
Wagner em ser candidato ao governo da Bahia, o PT local trabalhava com a
perspectiva de que o senador era favorito na corrida. Quando associado à
candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Wagner não apenas
crescia nas intenções de voto, como chegou a ultrapassar o principal
adversário, ACM Neto, em alguns cenários. Essa zona de conforto foi
inteiramente quebrada quando o rearranjo político provocou a ascensão do
secretário de Educação Jerônimo Rodrigues para a cabeça de chapa.
Antes vidraça, já que ACM Neto
poderia se aproveitar da disputa acirrada para ser apenas pedra, o PT da Bahia
agora terá que abrir a artilharia contra o adversário de maneira muito mais
incisiva. Com um ilustre desconhecido como candidato, a chapa governista vai se
esforçar para tentar descontruir a imagem que o ex-prefeito de Salvador
alicerçou desde que assumiu a gestão soteropolitana. Tudo isso ao mesmo tempo
em que evita que o ex-presidente Lula seja atingido por possíveis petardos dos
adversários.
A esquerda tenta, pelo menos
desde 2018, associar ACM Neto ao bolsonarismo. Não logrou êxito, mas não cansa
de tentar. O ex-prefeito de Salvador conseguiu se esquivar dessa acusação,
ainda que tenha tido alguns flertes com Jair Bolsonaro. Agora, que ACM Neto tem
ao seu lado João Leão, há a tentativa de cravar nele a pecha de sócio de um
traidor. Nem a roupa de Judas tem vestido o vice-governador, nem parece haver
reflexo no principal candidato a encerrar o ciclo petista na Bahia.
Ao assumir certo grau de favoritismo, o dirigente do União Brasil sabe que terá que lidar com esses ataques sistemáticos dos adversários. Por isso, ao ser questionado sobre o tema, ACM Neto evita se apresentar como governador em potencial. Numa corrida eleitoral, tudo é possível de acontecer - vide a própria eleição de Bolsonaro em 2018. Logo, a cautela dele é mais do que justificada. Por isso, o PT e Jerônimo abusarão de anacronismos para sugerir que o ex-prefeito é o retorno do carlismo. Quem fez essa ressalva importante foi o cientista político Paulo Fábio Dantas, que tratou o neocarlismo como uma tentativa do PT em deslocar o conceito encarnado pelo ex-senador ACM ao neto dele.
O eleitor terá a difícil missão de identificar quais são as pedras que cabem daqueles que são meramente discurso estratégico. Para a sorte do PT, há um acordo tácito de não agressão entre ACM Neto e Lula. Do lado do ex-prefeito, por reconhecer o potencial do petista na Bahia. Do lado do ex-presidente, por saber que não adianta alimentar a raiva dos adversários em um contexto de convergência a favor da democracia. Ao que parece, a vidraça da eleição baiana tem tudo para resistir aos arremessos do petismo - enfraquecidos pela prioridade de eleger Lula.
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