Enquanto
o mundo observa o aumento dos investimentos e o consequente crescimento da
influência da China na África e
na Ásia, um processo semelhante ocorre quase sem ser notado na América do Sul.
A diferença é que, no continente sul-americano, em vez de focar no governos
nacionais, Beijing atua em parceira com gestores regionais, algo que pode ser
notado especialmente no Brasil e na Argentina, segundo o jornal South China Morning Post.
Somente
em 2019, pelo menos oito governadores brasileiros e quatro vice-governadores
viajaram para a China. No caso da Argentina, a proximidade vale tanto para o
governo federal quanto para os estaduais. Em setembro de 2019, Zou Xiaoli,
embaixador da China em Buenos Aires, disse que o impulso de infraestrutura dado
pela China ajudou a inserir
a América Latina no mercado global. “A China dará um forte apoio ao
desenvolvimento econômico e social da Argentina”, disse ele.
A
ofensiva chinesa colocou em alerta os Estados Unidos, historicamente os mais
influentes na América Latina, costumeiramente descrita como “quintal
dos EUA“. Washington alerta que comprar tecnologia chinesa é um risco, vez
que empresas controladas por Beijing podem ser usadas para fins tanto civis
quanto militares, inclusive como armas
de espionagem.
Entretanto,
Cynthia Arnson, diretora do programa latino-americano do Wilson Center,
um think tank de Washington, diz que não basta alertar os
sul-americanos para os riscos oferecidos pela China. “Devemos fornecer alguma
alternativa”, diz ela. “Dólar por dólar, os EUA nunca serão capazes de igualar
os bolsos profundos dos bancos de investimento chineses”.
Tal
situação cabe perfeitamente na província de Jujuy, perto dos Andes, uma das
mais pobres da Argentina e onde a China financiou um dos maiores parques de
geração de energia solar da América Latina.
“Muitos funcionários do governo me disseram que o que estávamos falando, sobre
um parque solar de 300 megawatts, era impossível”, disse o secretário de
Energia local, Mario Pizarro. “Hoje não é mais um sonho, mas uma realidade. O
céu é o limite”.
Quintal
da China
No
caso específico da América do Sul, a China já superou os EUA em acordos de
comércio. Algo que pode ser notado especificamente no Brasil, no Chile e no
Peru, que têm em Beijing seu maior parceiro comercial. Por exemplo, a State
Grid Corporation of China é responsável pelo fornecimento de energia
elétrica para mais de dez milhões
de lares brasileiros. Na Colômbia, uma empresa chinesa encabeça o grupo que
está construindo o metrô de Bogotá. Já a Argentina anunciou, em fevereiro deste
ano, um investimento chinês de US$ 24 bilhões em projetos de infraestrutura.
O
estreitamento das relações levou o presidente chinês Xi Jinping a fazer 11
visitas à América Latina desde que assumiu o cargo, em 2012. Como base de
comparação, Barack Obama fez 12 visitas, e Donald Trump, uma.
Embora
ainda não tenha visitado a região, em setembro de 2021 o presidente Joe Biden,
despachou equipes diplomáticas para a América do Sul com o objetivo de levar
sua iniciativa Build Back Better (Reconstruir Melhor, em tradução
livre), que começou como um plano para reconstruir os EUA depois da Covid-19 e
tornou-se global sob a marca Build Back Better World ou BW3.
Mas
a resposta norte-americana não se limita à diplomacia. A fim de afastar a
China, Washington fez um empréstimo de US$ 3,5 bilhões ao Equador em 2021,
dinheiro destinado a pagar uma dívida com Beijing. A condição: que o governo
equatoriano deixasse de investir em tecnologia essencial produzida pela China.
China
x Brasil
Maior
parceiro comercial do Brasil, a China foi peça importante da disputa política
entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria.
Shangai foi a cidade escolhida por Doria para abrigar o primeiro escritório de
comércio exterior do Estado em outro país, o que permitiu o acordo para
fabricação da vacina contra Covid-19 CoronaVac.
Inicialmente,
o presidente brasileiro, um notório
opositor de Beijing, contestou a vacina, tratada como insegura. Mas acabou
cedendo, e no início de 2021 encomendou à China novas doses e material para
produção de vacinas. “A posição da China é: não me importo se seu presidente me
odeia ou não”, diz Thiago de Aragão, chefe de estratégia da consultoria
política brasileira Arko Advice. “É extremamente pragmático”.
Segundo
Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio
Vargas, a relação com a China deve ser analisada pelo prisma da necessidade.
“Você realmente não pode se dar ao luxo de pensar em possíveis resultados
negativos no futuro se tiver que enfrentar um problema muito urgente bem na sua
frente”.
Também
ajuda o fato de que a própria China não costuma se atentar muito para os riscos
que eventuais acordos oferecem. “A economia da Argentina é tão calamitosa que
apenas aventureiros como a China podem fazer negócios aqui”, diz Carlos Oehler,
ex-presidente da empresa de energia e mineração de Jujuy, a Jemse.
Por
que isso importa?
A
América Latina tornou-se parte fundamental do projeto de expansão da influência
global chinesa, com os países da região estreitando cada vez mais seus laços
com Beijing. Setores como os de mineração e de produção e distribuição de
energia têm crescente investimento chinês e se destacam na parceira.
A
China tem importado de países latino-americanos cerca de 75% do minério de
ferro comercializado no mundo e cerca de 60% de seu minério de cobre. As
fornecedoras são nações que aderiram ao projeto “Nova
Rota da Seda” (Belt and Road Iniciative, da sigla em inglês BRI), iniciativa
lançada pelo governo Xi Jinping em 2015 que financia projetos de infraestrutura
no exterior em quase 70 países.
Nos
últimos 20 anos, o comércio bilateral cresceu 25 vezes, de US$ 12 bilhões em
1999 para US$ 306 bilhões em 2018, colocando a China como o segundo maior
parceiro comercial da América Latina, atrás dos Estados Unidos.
De
acordo com o Conselho do Atlântico, com sede nos EUA, o Panamá, em novembro de 2017,
tornou-se o primeiro país latino-americano a endossar oficialmente a BRI, cinco
meses após ter trocado os laços diplomáticos de Taiwan pelos da China. Nos
dois anos seguintes, 18 dos 33 países da região adeririam à BRI. A Argentina é
a mais
recente integrante do projeto, que tem como exceções Brasil, Colômbia e México,
responsáveis por quase 70% do PIB da América Latina e ausentes da iniciativa.
Com informações do site de notícias internacionais A Referência.
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