Valdis Dombrovskis, comissário de comércio da União Europeia (Foto: Wikimedia Commons)
A União
Europeia (UE) entrou com uma representação contra a China na Organização Mundial
do Comércio (OMC), na quinta-feira (27), em virtude das sanções econômicas
impostas por Beijing à Lituânia como
retaliação pela aproximação entre o país báltico e Taiwan. As informações são do
jornal Financial Times.
Irritada
com as relações diplomáticas entre Lituânia e Taiwan, a China inicialmente
bloqueou todas as exportações provenientes do país báltico. Mais tarde, vetou
também a entrada em seu território de qualquer produto proveniente da UE que
contenha itens de origem lituana.
“Essas
ações, que parecem discriminatórias e ilegais sob as regras da OMC, estão
prejudicando os exportadores tanto na Lituânia quanto em outros lugares da UE”,
diz um comunicado da Comissão Europeia.
“A
UE está determinada a agir como uma só e agir rapidamente contra medidas que
violem as regras da OMC que ameaçam a integridade do nosso mercado único.
Estamos em paralelo perseguindo nossos esforços diplomáticos para diminuir a
situação”, afirmou Valdis Dombrovskis, comissário de comércio do bloco europeu.
Agora,
a OMC vai avaliar o caso por 60 dias, após os quais a UE poderá solicitar um
painel de julgamento que levará pelo menos seis meses para sentenciar. Uma das
opções é permitir que o bloco europeu imponha sanções retaliatórias. O objetivo
da medida, porém, é convencer a China a retirar as sanções, o que levaria
Bruxelas a suspender a representação.
A
iniciativa foi bem recebida por Gabrielius Landsbergis, ministro das Relações
Exteriores da Lituânia. “Este passo é uma mensagem clara para a China de que a
UE não tolerará atos de coerção
econômica politicamente motivados”, disse ele, que em dezembro
classificou as medidas impostas por Beijing como “sanções
não anunciadas”.
Inicialmente,
o veto a produtos lituanos não parecia danoso, vez que menos de 1% das
exportações da Lituânia vão para a China. Porém, Beijing intensificou as
medidas e passou a proibir inclusive produtos de outras nações europeias. Caso,
por exemplo, da fabricante alemã de autopeças Continental, que possui várias
instalações de produção na Lituânia, sendo a China um dos maiores importadores
da companhia.
A
comissão diz ter evidências de que Beijing também se recusou a liberar
mercadorias lituanas que chegaram à alfândega do país asiático e rejeitou
pedidos de importação feitos pelo país. O governo chinês culpou uma “falha
técnica” pelo fato de o software alfandegário ter rejeitado os pedidos.
A
China, como de hábito, engrossou a voz ao falar sobre a atitude da UE. “O problema
entre a China e a Lituânia é um problema político, não um problema econômico. O
problema entre a China e a Lituânia é resultado da traição da Lituânia e dos
danos aos interesses da China”, disse Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das
Relações Exteriores da China.
Por
que isso importa?
As
tensões entre China e Lituânia escalaram em agosto de 2021, quando
Beijing convocou
de volta seu embaixador em Vilnius, exigindo que o governo lituano
fizesse o mesmo com seu representante em território chinês. O incidente
teve relação com o fato de Taiwan, um mês antes, ter anunciado a instalação de
um departamento de representação na Lituânia chamado “Escritório de
Representação de Taiwan”.
Ao
emitir um relatório sobre o caso, o Ministério das Relações Exteriores da China
alegou que a Lituânia ignorou a “postura solene” do país e as normas básicas de
relações internacionais ao dar sinal verde para que Taiwan firmasse seu
escritório emVilnius. Além disso, pontuou que a medida “minou a soberania e a
integridade territorial da China e interferiu grosseiramente nos assuntos
internos da China”, abrindo um “mau precedente internacional”.
Isso
porque Taiwan é uma questão
territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem
o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em
desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong
Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação do governo taiwanês
com os Estados Unidos, desde 2020 a China tem endurecido
a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.
Embora
não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos
países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e
principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing,
que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Jatos
militares chineses passaram a realizar
exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente
invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a
independência do território “sem
uma guerra“.
Em
artigo publicado em novembro de 2021, Michael
Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para
frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já
estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que
e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o
tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de
Beijing”.
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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