Manifestante segura
cartaz que adapta bandeira da China com símbolo da suástica usado por nazistas
em protesto em Hong Kong, outubro de 2019 (Foto: CreativeCommons/Etan Liam)
Da Redação
A
“lei de segurança nacional”, principal arma do governo chinês para silenciar os
críticos em Hong Kong,
pode ser usada contra indivíduos de qualquer
nacionalidade que venham a se manifestar em desacordo com Beijing, em
qualquer lugar do mundo. Esse é um temor crescente entre especialistas, e os
principais alvos da perseguição tendem a ser os cidadãos de Taiwan, que luta para ter sua
independência em relação à China reconhecida.
As informações são da rede Voice of America (VOA).
“As
pessoas que violarem a lei de segurança nacional poderão ser extraditadas para
a China para o julgamento, mesmo que estejam apenas fazendo uma conexão em
aeroportos chineses”, diz Chen Yi-fan, professor assistente de diplomacia e
relações internacionais na Universidade Tamkang, perto de Taipé.
O
que explica tamanho poder de atuação do governo chinês é o texto vago da lei,
que pode ser usada contra qualquer pessoa com sentimentos
anti-China ou pró-Hong Kong que eventualmente coloque os pés em um
território chinês, casos de Hong Kong e de Macau, antiga colônia portuguesa
transferida para o domínio português em 1999.
Em
julho de 2020, a Anistia Internacional, que optou por fechar
seu escritório em Hong Kong, já havia advertido para o alcance da
normativa legal. Segundo o grupo, qualquer pessoa na Terra, “independentemente
de nacionalidade ou localização, pode ser tecnicamente considerada como tendo
violado a lei e pode ser presa e processada se estiver em uma jurisdição
chinesa, mesmo para trânsito”.
A
seu favor, Beijing tem os tratados
de extradição firmados com 37 países. Isso significa que um infrator
da lei baseado em um país aliado à China teria grandes chances de ser
extraditado, disse Stephen Nagy, professor associado sênior de política e
estudos internacionais da International Christian University, em Tóquio.
Por exemplo, o governo chinês já solicitou a extradição de uigures étnicos que
vivem na Malásia, mas o pedido foi negado.
Em
setembro de 2021, o empresário britânico Bill Browder foi alertado pelo
Ministério das Relações Exteriores de seu país a não viajar para nações que
honrem os tratados de extradição com Hong Kong. Os lugares de que foi
afastado incluem democracias como África do Sul e Portugal. Ele poderia ser
preso, extraditado e julgado em razão de seu apelo público para o Reino Unido
reagir contra os abusos aos direitos humanos em Hong Kong.
Segundo
Nagy, os alvos preferenciais são indivíduos que usam mandarim ou cantonês para
contestar as ideias do Partido
Comunista Chinês (PCC). “Cobrar retroativamente um (nativo) de Hong
Kong (que vive no exterior), ou um acadêmico de Taiwan, ou ações que eles
possam ter feito, é muito preocupante, porque é uma extensão da lei doméstica e
não está reconhecendo as várias identidades que existem nos chineses, maior
esfera da China”, disse ele.
Devido
ao risco, governos estrangeiros têm alertado seus cidadãos para que evitem
visitar a China
e Hong Kong, diz Nagy. O Departamento de Estado dos EUA, por exemplo, insta
os cidadãos norte-americanos a “reconsiderarem” as viagens a Hong Kong e ao
continente chinês por causa da “aplicação arbitrária das leis locais”.
Os
exilados
A
advogada Joey Siu, que nasceu em Hong Kong e trabalha em Washington, decidiu
não retornar para casa com medo de ser presa. Ela presumiu que seria detida
“imediatamente” se aparecesse no aeroporto da ex-colônia britânica, com base na
lei de segurança nacional.
Siu
atua com direito internacional e trabalha na ONG Hong Kong Watch, com sede
no Reino Unido, organizando protestos e manifestações. “Desde que a lei foi
implementada, em 2020, sinto que não estou mais seguro em Hong Kong, porque
percebi que estava sendo seguida por pessoas que não sei se são guardas de
segurança ou policiais de Hong Kong. Senti que minha segurança pessoal não é
mais garantida em Hong Kong”, diz ela.
Ao
menos quatro outros ativistas do território semiautônomo estão agora nos
Estados Unidos e na Europa pelo mesmo motivo, segundo ela. “Obviamente, meus
esforços de defesa internacional me levariam a ser acusada de conluio com
forças estrangeiras”, afirma.
Por
que isso importa?
Após
a transferência de Hong Kong do domínio britânico para o chinês, em 1997, o
território passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante
da China. Apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam
respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos
em massa por independência e democracia em 2019.
A
resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela “lei
de segurança nacional“, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar
a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza
qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão,
terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão
perpétua.
No
final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado
o primeiro
veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong
Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as
acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.
O
incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia
em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na
qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado
pelos ativistas
antigoverno nas manifestações de 2019.
Os
críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação
têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes nos
últimos meses. O trabalho
da imprensa tornou-se particularmente difícil, com seguidos casos de
jornalistas presos com base na lei. As autoridades de Hong Kong rejeitam essas
afirmações, e o governo local nega ter como alvo a mídia, insistindo que a lei
é necessária para preservar a segurança nacional.
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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