(*) João Ozorio de Melo
Em
fevereiro de 2021, um projeto de lei elaborado para refrear a violência
policial nos EUA passou na Câmara dos Deputados. Em setembro, o PL morreu no
Senado. Outras propostas com o mesmo objetivo sequer decolaram. Mas, por
iniciativa própria, os Departamentos de Polícia de várias cidades estão tomando
uma medida que pretende reduzir a violência policial: treinar os policiais em
jiu-jítsu brasileiro.
Há
várias explicações para o fato de os policiais usarem força excessiva ao tentar
prender um suspeito — entre elas, o medo de serem feridos ou de morrerem, o
estresse (ou a adrenalina) das situações em que se encontram nas ruas,
preconceitos raciais, a existência de policiais que sentem impulsos para atirar
(apelidados de "happy triggers") e um treinamento falho, que consiste
mais em técnicas de tiro.
Mas
o que os policiais precisam ao efetuar uma prisão é imobilizar um suspeito,
além de saber se defender em caso de reação. Nisso, o jiu-jítsu brasileiro,
conhecido popularmente como BJJ (Brazilian Jiu-jitsu), pode ajudar mais do que
qualquer outra técnica, como avaliaram dirigentes de departamentos de polícia
em um documentário da HBO, com o título de Real Sports with Bryant Gumbel:
Force for Change.
No
documentário, que começa com cenas fortes de violência policial, Rener Gracie,
membro da família que inventou o jiu-jítsu brasileiro na década de 20, explica
que o objetivo do treinamento de policiais é proporcionar a eles as
ferramentas e a capacidade de prender um suspeito violento e agressivo, mas sem
o uso de força excessiva.
Ele
explica que o jiu-jítsu capacita o policial para fazer exatamente isso:
neutralizar o agressor — e a ameaça que ele representa — com menor uso de
força. Essa técnica habilita pessoas menores e mais fracas para enfrentar
agressores maiores e mais fortes em um confronto físico.
Há
uma intenção colateral dos departamentos de polícia ao colocar seus policiais
para treinar o jiu-jítsu brasileiro: as imagens de violência policial,
incluindo as de espancamento de suspeitos indefesos e de uso fatal de armas
(por falta de uma alternativa melhor), são captadas por câmeras dos próprios
policiais — ou são filmadas por transeuntes.
Isso
tem deteriorado muito as relações da polícia com as comunidades sob sua
proteção. Em protestos, os manifestantes têm pedido o corte das verbas
destinadas à polícia e até mesmo a simples extinção da polícia. São medidas
radicais que não irão acontecer, mas esse não é um cenário que a polícia quer
para a instituição.
Com
técnicas de submissão de suspeitos não agressivas e tiroteios reduzidos ao
inevitável, o objetivo de um bom relacionamento com as comunidades e de
recuperação do respeito pode ser atingido.
Jiu-jítsu
para advogados
Em artigo para o Jornal da ABA (American Bar Association), o advogado Adam
Banner escreve sobre o uso de jiu-jítsu brasileiro por policiais e também
o recomenda a advogados. Ele garante, por experiência própria, que a prática de
BJJ pode aliviar as tensões, a ansiedade e a extenuação do dia a dia.
Banner
afirma que pratica jiu-jítsu porque não quer levar a raiva para casa ou
descontá-la nos familiares, amigos, colegas de trabalho ou em pessoas que não
têm nada a ver com isso. "É terrível você achar que está certo, porque os
fatos dizem que você está certo, a lei diz que você está certo, mas o juiz diz
que você está errado", ele escreveu.
Banner
começou a praticar o BJJ há sete anos, convencido por um colega. Agora, ele
tenta convencer outros advogados a fazer a mesma coisa, porque a classe lida
com problemas de saúde mental, exaustão emocional, explosões de raiva e
agressão, alcoolismo e suicídio, por causa do estresse natural do dia a dia da
profissão.
É
possível canalizar todas as emoções negativas e liberar as energias de uma
maneira controlada, em um ambiente controlado. No jiu-jítsu, você passa cinco
minutos tentando "quebrar" um adversário e, ao mesmo tempo, se
defender das tentativas dele de "quebrar" você; depois ambos se
levantam com um sorriso, apertam as mãos e se cumprimentam.
* João
Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos
Estados Unidos.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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