(*) Taciano Gustavo Medrado Sobrinho
O Comitê de Política
Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de
juros, a Selic, em 1 ponto percentual. Assim, a taxa de referência do país
passa de 4,25% ao ano para 5,25% a.a. Essa foi o quarto aumento consecutivo
desde o início do movimento de alta dos juros, em março.
Em
comunicado, a autoridade monetária indica que um ciclo de elevação da taxa de
juros para patamar acima do neutro é agora indicado, dado o cenário, já
antevendo outro ajuste de 1 p.p. em sua próxima reunião, em setembro.
“O
Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no
ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das
expectativas de inflação (…) O cenário básico e o balanço de riscos indicam ser
apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude”.
Trata-se
do maior aperto monetário dos últimos 18 anos. A última vez que o BC aumentou
os juros em 1%. foi em 19 de março de 2003, quando passou de 25,5% para
26,5% ao ano.
O
movimento era amplamente esperado pelo mercado, mas, ainda assim, deve ser
recebido com cautela. “Ainda que esperado, o mercado irá ler o comunicado como
um duro recado. Nos chama particular atenção o seguinte trecho onde reafirma mais
uma alta de 100 pontos para a próxima reunião”, diz André Perfeito, economista
chefe da Necton, em nota.
O
avanço na Selic é parte do movimento de retirada de estímulos da atividade
econômica pelo BC após o Copom ter reduzido, no ano passado, a taxa à mínima
histórica de 2% ao ano, com o objetivo de estimular a recuperação da economia
após a pandemia da Covid-19.
Entre
os fatores que fortaleceram a decisão do Copom por uma nova alta, estão o
avanço contínuo da projeção da inflação, que já está acima da meta, as revisões
positivas para o Produto Interno Bruto (PIB), a prorrogação
do auxílio emergencial, além da expectativa de um novo Bolsa
Família de cerca de R$ 400.
O
mercado já prevê uma inflação
de 6,79% em 2021. A meta do BC para este ano é de 3,75%, com tolerância de
1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) poderia oscilar entre 2,25% e 5,25%.
A
taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para perseguir
a meta de inflação, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Com
isso, a mediana das projeções é de que a Selic avance até os 7% a.a até o final
de 2021. Alguns
analistas já estimam uma Selic de 8% a.a até o fim do ano.
Comunicado do Copom
Em
sua 240ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por
unanimidade, elevar a taxa Selic para 5,25% a.a.
A
atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes
observações:
No
cenário externo, a evolução da variante Delta da Covid-19 adiciona risco à
recuperação da economia global. O Comitê avalia que, a despeito dos movimentos
recentes nas curvas de juros, ainda há risco relevante de aumento da inflação
nas economias centrais. Ainda assim, o ambiente para países emergentes segue
favorável com os estímulos monetários de longa duração, os programas fiscais e
a reabertura das principais economias;
Em
relação à atividade econômica brasileira, os indicadores recentes continuam
mostrando evolução positiva e não ensejam mudança relevante para o cenário
prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao
longo do segundo semestre;
A
inflação ao consumidor continua se revelando persistente. Os últimos
indicadores divulgados mostram composição mais desfavorável. Destacam-se a
surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços e a continuidade
da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos.
Além
disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do
adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos,
ambos decorrentes de condições climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores
acarretam revisão significativa das projeções de curto prazo;
As
diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo
compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
As
expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus
encontram-se em torno de 6,8%, 3,8% e 3,25%, respectivamente; e
No
cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus
e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,15*, e evoluindo segundo a paridade do
poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de
6,5% para 2021, 3,5% para 2022 e 3,2% para 2023.
Esse
cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 7,00% a.a. neste ano,
mantém-se nesse valor durante 2022 e reduz-se para 6,50% a.a. em 2023. Nesse
cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 10,0% para
2021 e 4,6% para 2022 e 2023. Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira
tarifária de energia elétrica, que se mantém em “vermelha patamar 1” em
dezembro de cada ano-calendário.
O
Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores
de risco em ambas as direções.
Por
um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos
preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de
inflação abaixo do cenário básico.
Por
outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia
que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os
prêmios de risco do país.
Apesar
da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o
risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos,
ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte
relevante para a política monetária.
O
Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na
economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da
economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade
das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das
contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando
o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações
disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em
1,00 ponto percentual, para 5,25% a.a.
O
Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de
riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é
compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante,
que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023.
Esse
ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em
componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de
serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de
inflação.
O
Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no
ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das
expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar
a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações
do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Neste
momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado
um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro.
Para
a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom
enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para
assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da
atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de
inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Votaram
por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto
(presidente), Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães
Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio
Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor
obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio
USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana
anterior à da reunião do Copom.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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