ESPAÇO DO LEITOR: CENÁRIO DA ELEIÇÃO 2020 EM JUAZEIRO-BAHIA

 


Por: Wilberstein Sandersflip

Eu ainda não me defini para prefeito nem para vereador, mas vou fazer uma análise do quadro atual.

O maior nome de uma eleição é e sempre será quem concorre à reeleição. Por estar com a máquina na mão, o prefeito tem os funcionários de livre nomeação, seus secretários e seus vereadores, os quais tem uma grande facilidade para obter os votos das pessoas que estão em suas órbitas, incluindo familiares e aderentes. Para um prefeito perder a eleição, tem que ser uma gestão muito ruim diante da ótica popular ou ser inábil para contemplar seus aliados.

Sendo assim, no caso de Juazeiro, percebo que a estratégia da oposição seria minar os votos do prefeito Paulo Bonfim. Porém, percebe-se que enquanto a "metade" do eleitorado está com o prefeito, a outra metade está dividida entre Suzana e Coronel. Felizmente, Juazeiro não abraça o extremismo de esquerda do PSOL.

Perceba, porém, que muitos eleitores apenas querem que o prefeito não seja reeleito. Sendo assim, vão escolher ou Suzana ou Coronel. Entretanto, como Juazeiro não tem segundo turno, basta ao prefeito manter seu eleitorado atual que já estará reeleito, pois quem vota Suzana ou Coronel é justamente para não votar em Paulo Bonfim.

Sendo assim, serão comuns os ataques de Coronel e Suzana a Paulo Bonfim, pois a ideia é desgastá-lo. Entretanto, eles não tem a certeza de que irão tirar apenas eleitores de Paulo Bonfim. Suzana pode tirar eleitores de Coronel e vice-versa, o que é favorável a Paulo Bonfim.

Evidentemente, não vejo a possibilidade de uma união entre Suzana e Coronel. A candidatura de Suzana possui uma dose de  apelo lacrador, haja vista que busca enfatizar a questão do empoderamento feminino visando a atrair esse tipo de eleitorado, num momento em que se valoriza muito a representatividade. Contam contra ela a inexperiência administrativa de seu vice, a rejeição existente contra Joseph Bandeira e sua pouca capacidade de retórica.

Já a candidatura de Coronel esbarra no perfil esquerdista do Nordeste, da Bahia e de Juazeiro. Numa visão geral, as pessoas mais pobres, com ou sem razão, não gostam da PM. Eles associam PM à violência indiscriminada contra moradores de áreas periféricas, principalmente contra negros. O eleitorado de Coronel tem basicamente o perfil conservador, o qual é minoritário no Nordeste, na Bahia e em Juazeiro. Bolsonaro conseguiu ampliar o número de candidaturas militares. Isso tem bastante força em Estados do Sudeste, do Sul, parte do Centro-Oeste e no Distrito Federal. No Nordeste, já foi provado que isso não funciona. Ao mesmo tempo, a classe artística e da cultura de Juazeiro tem o perfil mais à esquerda, o que torna de pouca utilidade o nome de Targino Gondim para vice. Verdade seja dita, os partidos de esquerda sabem abraçar as artes, a cultura, os movimentos sociais, o movimento negro, o LGBT e o feminismo.

Não adianta. Os militares ficaram estigmatizados pelo regime de 1964/1985, o qual foi péssimo para o progressismo e para a esquerda, em geral. Coronel pode até tentar, mas será difícil criar uma imagem de figura popular e, assim, ter imensa penetração nos  bairros periféricos e entre pessoas de menor instrução.

Dito isso, não creio que Paulo Bonfim tenha sido ruim com seus aliados. Creio que seus aliados continuam leais e, portanto, suas bases eleitorais estão mantidas. A maioria dos Vereadores ainda lhe é leal. Ao que me parece, os servidores públicos estão satisfeitos com sua situação salarial, haja vista que houve reajustes, não houve maiores paralisações e os salários estão em dia. Tudo isso faz com que eu mantenha o que disse ao afirmar que Paulo Bonfim é o protagonista dessa eleição.

Quanto a Suzana e Coronel, sugiro que tenham duas preocupações. A primeira é de tirar votos de Paulo Bonfim e a segunda é de comprovar que tem mais possibilidade de fazer bom proveito do voto útil. Ou seja, não basta apenas tirar votos do prefeito, mas tem que fazer com que esse voto não vá para o outro e nem seja anulado. De nada adianta a Suzana tirar votos de Paulo Bonfim e levá-los para Coronel, assim como Coronel tem que cuidar para que os votos tirados de Paulo Bonfim não vão para Suzana, pois não existe segundo turno em eleição municipal em Juazeiro. Basta ter maioria simples e não maioria absoluta.

Se eu fosse os três candidatos que citei, lutaria ao máximo para captar o voto dos injuriados. Injuriados é o nome que eu dou para os eleitores que não estão nem aí e que, por essa razão, votariam em qualquer um ou então que não querem votar em ninguém. O número de pessoas aborrecidas com a política é muito grande e isso se comprova no grande número de abstenções e de votos nulos e brancos. Para conquistar esses eleitores, os candidatos precisam comprovar que são um fato novo, pois no senso comum dos mesmos "tudo é a mesma merda". Tem que ser um candidato que o eleitor olhe e diga: "Olha só! Esse(a) é diferente! Gostei dele(a)! Rapaz, me impressionou!" Tem que comprovar que é diferente e que não compactua com aquele velho discurso de "mais trabalho, mais saúde, mais educação, mais escola...". Isso já envelheceu. Foi assim que Jânio Quadros, Collor, Lula, Isaac Carvalho, Doria e Bolsonaro venceram. Nos casos citados, cada um em seu momento, os candidatos se colocaram como fato novo e, se não comprovaram que eram bons, pelo menos provaram que não eram iguais aos costumeiros.

A meu ver, seria a vez de Charles Leão ter uma votação mais expressiva, pois manteria o eleitorado de 2016 e poderia conquistar eleitores descontentes de Paulo Bonfim. Entretanto, por razões que desconheço, e quero me manter desconhecendo, o mesmo se aliou a Paulo Bonfim. Essa atitude não foi inteligente, pois, na eleição passada, Charles Leão se colocou como um feroz opositor do prefeito e um político diferenciado. Dou certeza de que aqueles que votaram em Charles Leão em 2016 não votarão em Paulo Bonfim nessa eleição, pois essa aliança expõe uma grave contradição, facilmente identificada por esse segmento, o qual é formado por pessoas mais cultas, racionais e capacitadas a reconhecer uma boa gestão pública.

A meu ver, a gestão de Paulo Bonfim não é das melhores, porém não chega a ser algo capaz de criar rejeição extrema. Paulo Bonfim teve uma imensa sorte. Não vejo nem poder de debate nem consistência na candidatura de Suzana. Creio que apenas se apegar ao discurso de representatividade feminina será insuficiente, pois é preciso demonstrar poder de argumentação. Da mesma forma, não vejo capacidade de Coronel se aproximar dos mais pobres a ponto de fazer uma massa representativa. Se ele vincular sua imagem ao conservadorismo e ao bolsonarismo, será pior ainda para ele. Como não vejo a possibilidade de união entre as chapas de Suzana e Coronel, fica claro que as duas vão se digladiar pelo voto útil e isso deixará o caminho livre para a reeleição de Paulo Bonfim. Sendo assim, não estou dizendo que sou contra nem a favor, haja vista que ainda não me decidi sobre o tema, porém HOJE eu digo que Paulo Bonfim será reeleito prefeito de Juazeiro.

 

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