Quatro líderes de
movimentos por moradia foram presos na manhã desta segunda-feira (24) em
inquérito que investiga a ocupação do edifício Wilton Paes de Almeida. O prédio
no Centro de São Paulo desabou
após ser atingido por um incêndio em maio de 2018.
Movimentos sem teto e de
direitos humanos afirmam que a ação é ilegal e criminaliza luta por moradia.
Os presos são acusados de extorquir
moradores de ocupações, além de associação criminosa. Segundo os
investigadores, as prisões ocorreram para evitar que os o grupo pudesse
interferir nas investigações.
Outras cinco pessoas tiveram a prisão
autorizada pela Justiça, mas não foram localizadas. Os policiais cumpriram
ainda 17 mandados de busca e apreensão.
A operação do
Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) pediu a prisão de 17 pessoas,
mas o juiz Marco Antônio Martins Vargas autorizou a execução de apenas 9
prisões temporárias. Dentre os 9 acusados, apenas 4 foram localizados e detidos
hoje:
Edinalva Silva Pereira, do movimento Moradia Para
Todos;
Sidney Ferreira da
Silva, do Movimento dos Sem Teto do Centro;
Janice
"Preta" Ferreira da Silva, do Movimento dos Sem Teto do Centro;
Angélica dos Santos
Lima, Movimento de Moradia Para Todos.
Cinco acusados
não foram localizados pela Polícia Civil nesta manhã. Dois deles seriam líderes
do movimento que coordenava a ocupação do edifício Wilton Paes de Almeida.
Segundo André
Figueiredo, delegado responsável pelo caso, o inquérito se baseia em denúncias
de extorsão feitas em carta anônimas por moradores do edifício que desabou.
Além dos depoimentos de 13 testemunhas a investigação também contou com
interceptações telefônicas, de acordo com o delegado.
Os advogados dos presos
não encontraram nenhum motivo ou prova para essa operação, tendo em vista que
se fundamenta em declarações frágeis para as referidas prisões e conduções
coercitivas. "Repudiamos mais esse episódio de criminalização da luta
popular e exigimos a imediata libertação dos presos políticos dos movimentos
populares. Estamos articulando um comitê em defesa dos presos políticos. Junte-se
a nós contra a criminalização dos movimentos sociais. Quem ocupa não tem
culpa", diz nota da Central de Movimentos Populares (CMP), Frente de Luta
por Moradia (FLM) e União dos Movimentos de Moradia (UMM)
Acusados
Entre os
detidos está Janice "Preta" Ferreira da Silva, publicitária e filha
de Carmen Silva, que é líder do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). Segundo os
advogados de Preta, as prisões temporárias são arbitrárias porque as lideranças
detidas não estão envolvidas com o prédio que desabou, que não teria nenhum
movimento organizado e reconhecido em sua gestão.
Em fevereiro deste ano, a mãe de Preta Ferreira,
Carmem da Silva Ferreira, coordenadora da ocupação do Hotel Cambridge, foi
absolvida pela Justiça de São Paulo. Ela também era acusada de
extorquir dinheiro de moradores da ocupação. A decisão foi
proferida pelo juiz Marcos Vieira de Morais, da 26ª Vara Criminal de São Paulo.
Na decisão, o juiz considerou que as provas contra
Carmen eram conflitantes e insuficientes. Segundo a defesa de Carmen e Preta, a
farta apresentação de notas fiscais e atas que a liderança do movimento dos
sem-teto encaminhou ao processo teria comprovado a correta prestação de contas
e contribuído para a absolvição.
“A defesa anexou aos autos notas fiscais e atas de
assembleias demonstrando a destinação das contribuições individuais que cada
família deveria pagar para suportar as despesas mensais do edifício",
explicou.
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